segunda-feira, 21 de outubro de 2019

«Fim da Inocência» - Versão Taralhouca em dois actos

Vai daí e pomo-nos a pensar como é que se poderia melhorar esta fantochada de má qualidade. A solução natural é pormo-nos na pele do mestre Quentin Tarantino, pelo menos naquele dos primeiros tempos pois parece que desde há alguns anos para cá a mestria esgotou-se e deu lugar a uma gratuitidade da violência.

Apresento agora uma versão taralhouca para o fim daquela estupidez literário-televisiva em dois actos.
Elenco

- Carlos Heleno, o Supervisor da Terra: Samuel L. Jackson.
- Ajudante deste (ninguém me pergunte por nomes que eu não quero ocupar neurónios com algo tão foleiro como aquilo a não ser para fazer troça dele): John Travolta.
- Supraconsciência: Bridget Fonda.
- Povo extraterrestre: figurantes.

Acto I
Cena Única

(Os dois extraterrestres acabam de chegar com a sua nave ao Sistema Solar e apreciam a vista sobre a Terra a partir da cabine de comando.)

Carlos Heleno - Ah, então é este o planeta?

Ajudante - Sim, é giro, não é?

Carlos Heleno - É pois!

Ajudante - Os tais seres que vamos eliminar chamam-lhe «Terra».

Carlos Heleno - «Terra»? (Faz uma carentonha.) Mas aquilo tem mais água que terra!

Ajudante - É, eu sei. (Fecha os olhos e franze a testa em sinal de resignação.) Eles são tão estúpidos. Dão-lhe um nome ao contrário do que é, adoram-no e desejam-no mas destroem-no... São umas cabeças de pirilau...

Carlos Heleno - A sério? Bandalhos! Vamos mas é limpá-los logo.

Ajudante - Calma, tem de ser como manda o protocolo. E ademais, tu até gostarias deles, os «humanos». Eu já fui ali umas quantas vezes, durante uma coisa que eles fazem a que chamam «Carnaval», onde uns andam despidos e outros com umas fatiotas bizarras, a fingir serem o que não são.

Carlos Heleno - Criaturas peculiares...

Ajudante - Deveras, meu caro. Mas apesar das maldades que fazem, mesmo uns aos outros, por vezes revelam bondade, em especial nas coisas pequenas.

Carlos Heleno - Ai é? Como assim? Dá lá aí um exemplo.

Ajudante - Olha, eles gostam de ter outros animais, plantas e seres em geral aos seus cuidados. Na maior parte das vezes, até tratam bem deles. Imagina tu que dão-lhes nomes. Dão até a objectos. Alguns nomes são engraçados, outros são parvos. Melhor, eles têm de ingerir coisas a que chamam de «comida» para se manterem vivos e até à comida dão nomes. Mas a coisa mais estranha é que eles falam, só que não de igual modo em todo o lado.

Carlos Heleno - Ai não? São mesmo estranhos...

Ajudante - É, são pois. Olha, ali naquele lado (aponta para o planeta), é um lugar chamado Estados Unidos da América. Os humanos de lá chamam a uma comida «quarto de libra com queijo». A mesma comida do outro lado do mar, naquele sítio chamado França, já tem um nome diferente.

Carlos Heleno - Ai eles lá não lhe chamam «quarto de libra com queijo»?

Ajudante - Não, pá. Eles lá têm o Sistema Métrico.

Carlos Heleno - Que é isso?

Ajudante - Não sei, é lá qualquer religião deles ou jogo ou o camandro.

Carlos Heleno - Então como é que lhe chamam?

Ajudante - Chamam-lhe «royale com queijo».

Carlos Heleno - «Royale com queijo»...

Ajudante - Ouve lá. Então tu és o Supervisor da Terra e não sabes nada sobre ela?

Carlos Heleno - Não, eu fui recentemente recolocado. Eu estava em Alderan mas um indivíduo dum gang rival, o Império Galáctico, rebentou com aquilo. Como o gajo daqui andava a fazer bosta, a Supraconsciência «despachou-o» e mandou-me para cá a semana passada.

Ajudante - «Despachou-o»?

Carlos Heleno - Sim, ela despediu-o.

Ajudante - Chiça! Rameira intragável e sarnenta! Então e agora como é que ele vai orientar a mulher e os filhos?

Carlos Heleno - Acho que o cunhado lhe arranjou lugar numa fundição. Sempre é melhor que isto.

Ajudante - É, podes crer...

(Fez-se silêncio por alguns instantes.)

Ajudante (hesitante) - Ó Carlos Heleno...

Carlos Heleno - Sim?

Ajudante - Eu às vezes ponho-me a pensar...

Carlos Heleno - Sim? Tu fazes isso?

Ajudante - Sim... É que... Tu já viste o que nós fazemos? Andamos por aí, dum lado para o outro, e somos pagos, mal pagos, para enganar e matar viventes e destruir planetas... só porque a Supraconsciência manda. No fim, nós somos uns meros lacaios. Fazemos-lhe a papinha toda e ela é que fica cada dia mais poderosa.

Carlos Heleno - Sabes que mais? Tens razão! A gaja é bera e anda a usar-nos.

Ajudante - É! E depois nós é que ficamos como os maus da fita. Ela anda a parasitar-nos e a xaringar-nos o juízo e a reputação!

Carlos Heleno - Nunca tinha pensado nisso! Espera lá que ela já vai ver a quem é que anda a puxar o rabo.

(A nave fez inversão de marcha e entrou no hiper-espaço de volta à proveniência.)

Fim do primeiro acto.

Acto II

Cena I

(De regresso ao seu planeta de origem, Carlos Heleno e o seu ajudante pediram uma audiência com a sua patroa, a Supraconsciência. Chegaram junto dela, num amplo espaço de intensa luz branca.)

Carlos Heleno - Ó patroa! Podemos entrar?

Supraconsciência - Já entraste, tu e o teu ajudante.

Carlos Heleno - Excelente!

Ajudante (fecha a porta atrás de si) - Chefe, nós pedimos a audiência e estamos aqui porque temos uma coisinha a dizer.

Supraconsciência - Eu sei.

Carlos Heleno - Ai sim?

Supraconsciência - Sim.

Ajudante - A sério?

Supraconsciência - A sério. Eu sou a Supraconsciência. Eu sei tudo, pois claro! Se vos vejo aqui, é porque há algo para me ser dito.

(Os dois extraterrestres  fazem esgares de constatação da lógica da batata.)

Ajudante - Ah, bom...

Carlos Heleno - É que nós estamos fartos de sermos os moços de recados sujos. Andamos a fazer todo o trabalho de vilões para que tu, chefe, fiques mais poderosa.

Supraconsciência - Sim, e daí? Não é preciso ser Supraconsciência para saber isso.

Carlos Heleno - E daí que estamos fartos de sermos parasitados por ti, sua pêga chica-esperta armada em divindade. Agora é hora de cancelar o nosso contrato. (Saca de uma arma de raios laser super-concentrados e aponta-a à Supraconsciência.)

Supraconsciência - E é com isso que vais «cancelar o contrato»?  Tu? Mais ninguém? Só com esse pingalheto?
Ajudante (saca igualmente da sua arma) - Não, comigo também, mais esta menina. E com estes nossos amigos.

Cena II

(A porta abre-se e entra no compartimento toda a população do planeta, vermelhinha e chifruda, furiosa e de armas em riste.)

Supraconsciência (surpreendida e zangada) - Que rio de chibança vem a ser esta, seus cornudos dum cabresto? Porventura foi esquecido que essa bodega é uma violação à Lei? À minha lei?

Ajudante - Nem por isso. É que nós estamos a borrifar-nos para ti mais para a tua lei. Nós somos sacanas sem lei.

Carlos Heleno - Pois é, gaja! E agora, como é que é? Já pias fininho. Pois para que não fiques sem palavras, vou dar-te algumas dum texto que eu li. «Exequiel 25:17...» Ai como é que era o resto? Esqueci...

(Soa um tiro e logo depois, por impulso instintivo, todos desataram a esmifrar a Supraconsciência com tiros, a qual ficou feita passador por entre gritos até jazer cadavérica no chão, mais rilada que um saco de plástico num ninho de ratos.)

Ajudante - Calma, pessoal, alto! (Esbracejava e gritava e só algum tempo depois é que os tiros pararam.) 

Carlos Heleno (igualmente satisfeito mesmo sem se lembrar do texto que leu) - Huum... bem... também serve. Vamos a umas «jolas»?

Ajudante - «Bora»!

Alguém da multidão (grita) - Rodada de borla para todos!

( A populaça exultou de alegria e deixou o salão aos poucos.)

FIM

É mau, não é? Pois o original é pior ainda.

Que a caca esteja convosco!!!


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!