Vai daí e pomo-nos a pensar como é que se poderia melhorar esta fantochada de má qualidade. A solução natural é pormo-nos na pele do mestre Quentin Tarantino, pelo menos naquele dos primeiros tempos pois parece que desde há alguns anos para cá a mestria esgotou-se e deu lugar a uma gratuitidade da violência.
Apresento agora uma versão taralhouca para o fim daquela estupidez literário-televisiva em dois actos.
Elenco
- Carlos Heleno, o Supervisor da Terra: Samuel L. Jackson.
- Ajudante deste (ninguém me pergunte por nomes que eu não quero ocupar neurónios com algo tão foleiro como aquilo a não ser para fazer troça dele): John Travolta.
- Supraconsciência: Bridget Fonda.
- Povo extraterrestre: figurantes.
Acto I
Cena Única
(Os dois extraterrestres acabam de chegar com a sua nave ao Sistema Solar e apreciam a vista sobre a Terra a partir da cabine de comando.)
Carlos Heleno - Ah, então é este o planeta?
Ajudante - Sim, é giro, não é?
Carlos Heleno - É pois!
Ajudante - Os tais seres que vamos eliminar chamam-lhe «Terra».
Carlos Heleno - «Terra»? (Faz uma carentonha.) Mas aquilo tem mais água que terra!
Ajudante - É, eu sei. (Fecha os olhos e franze a testa em sinal de resignação.) Eles são tão estúpidos. Dão-lhe um nome ao contrário do que é, adoram-no e desejam-no mas destroem-no... São umas cabeças de pirilau...
Carlos Heleno - A sério? Bandalhos! Vamos mas é limpá-los logo.
Ajudante - Calma, tem de ser como manda o protocolo. E ademais, tu até gostarias deles, os «humanos». Eu já fui ali umas quantas vezes, durante uma coisa que eles fazem a que chamam «Carnaval», onde uns andam despidos e outros com umas fatiotas bizarras, a fingir serem o que não são.
Carlos Heleno - Criaturas peculiares...
Ajudante - Deveras, meu caro. Mas apesar das maldades que fazem, mesmo uns aos outros, por vezes revelam bondade, em especial nas coisas pequenas.
Carlos Heleno - Ai é? Como assim? Dá lá aí um exemplo.
Ajudante - Olha, eles gostam de ter outros animais, plantas e seres em geral aos seus cuidados. Na maior parte das vezes, até tratam bem deles. Imagina tu que dão-lhes nomes. Dão até a objectos. Alguns nomes são engraçados, outros são parvos. Melhor, eles têm de ingerir coisas a que chamam de «comida» para se manterem vivos e até à comida dão nomes. Mas a coisa mais estranha é que eles falam, só que não de igual modo em todo o lado.
Carlos Heleno - Ai não? São mesmo estranhos...
Ajudante - É, são pois. Olha, ali naquele lado (aponta para o planeta), é um lugar chamado Estados Unidos da América. Os humanos de lá chamam a uma comida «quarto de libra com queijo». A mesma comida do outro lado do mar, naquele sítio chamado França, já tem um nome diferente.
Carlos Heleno - Ai eles lá não lhe chamam «quarto de libra com queijo»?
Ajudante - Não, pá. Eles lá têm o Sistema Métrico.
Carlos Heleno - Que é isso?
Ajudante - Não sei, é lá qualquer religião deles ou jogo ou o camandro.
Carlos Heleno - Então como é que lhe chamam?
Ajudante - Chamam-lhe «royale com queijo».
Carlos Heleno - «Royale com queijo»...
Ajudante - Ouve lá. Então tu és o Supervisor da Terra e não sabes nada sobre ela?
Carlos Heleno - Não, eu fui recentemente recolocado. Eu estava em Alderan mas um indivíduo dum gang rival, o Império Galáctico, rebentou com aquilo. Como o gajo daqui andava a fazer bosta, a Supraconsciência «despachou-o» e mandou-me para cá a semana passada.
Ajudante - «Despachou-o»?
Carlos Heleno - Sim, ela despediu-o.
Ajudante - Chiça! Rameira intragável e sarnenta! Então e agora como é que ele vai orientar a mulher e os filhos?
Carlos Heleno - Acho que o cunhado lhe arranjou lugar numa fundição. Sempre é melhor que isto.
Ajudante - É, podes crer...
(Fez-se silêncio por alguns instantes.)
Ajudante (hesitante) - Ó Carlos Heleno...
Carlos Heleno - Sim?
Ajudante - Eu às vezes ponho-me a pensar...
Carlos Heleno - Sim? Tu fazes isso?
Ajudante - Sim... É que... Tu já viste o que nós fazemos? Andamos por aí, dum lado para o outro, e somos pagos, mal pagos, para enganar e matar viventes e destruir planetas... só porque a Supraconsciência manda. No fim, nós somos uns meros lacaios. Fazemos-lhe a papinha toda e ela é que fica cada dia mais poderosa.
Carlos Heleno - Sabes que mais? Tens razão! A gaja é bera e anda a usar-nos.
Ajudante - É! E depois nós é que ficamos como os maus da fita. Ela anda a parasitar-nos e a xaringar-nos o juízo e a reputação!
Carlos Heleno - Nunca tinha pensado nisso! Espera lá que ela já vai ver a quem é que anda a puxar o rabo.
(A nave fez inversão de marcha e entrou no hiper-espaço de volta à proveniência.)
Fim do primeiro acto.
Acto II
Cena I
(De regresso ao seu planeta de origem, Carlos Heleno e o seu ajudante pediram uma audiência com a sua patroa, a Supraconsciência. Chegaram junto dela, num amplo espaço de intensa luz branca.)
Carlos Heleno - Ó patroa! Podemos entrar?
Supraconsciência - Já entraste, tu e o teu ajudante.
Carlos Heleno - Excelente!
Ajudante (fecha a porta atrás de si) - Chefe, nós pedimos a audiência e estamos aqui porque temos uma coisinha a dizer.
Supraconsciência - Eu sei.
Carlos Heleno - Ai sim?
Supraconsciência - Sim.
Ajudante - A sério?
Supraconsciência - A sério. Eu sou a Supraconsciência. Eu sei tudo, pois claro! Se vos vejo aqui, é porque há algo para me ser dito.
(Os dois extraterrestres fazem esgares de constatação da lógica da batata.)
Ajudante - Ah, bom...
Carlos Heleno - É que nós estamos fartos de sermos os moços de recados sujos. Andamos a fazer todo o trabalho de vilões para que tu, chefe, fiques mais poderosa.
Supraconsciência - Sim, e daí? Não é preciso ser Supraconsciência para saber isso.
Carlos Heleno - E daí que estamos fartos de sermos parasitados por ti, sua pêga chica-esperta armada em divindade. Agora é hora de cancelar o nosso contrato. (Saca de uma arma de raios laser super-concentrados e aponta-a à Supraconsciência.)
Supraconsciência - E é com isso que vais «cancelar o contrato»? Tu? Mais ninguém? Só com esse pingalheto?
Ajudante (saca igualmente da sua arma) - Não, comigo também, mais esta menina. E com estes nossos amigos.
Cena II
(A porta abre-se e entra no compartimento toda a população do planeta, vermelhinha e chifruda, furiosa e de armas em riste.)
Supraconsciência (surpreendida e zangada) - Que rio de chibança vem a ser esta, seus cornudos dum cabresto? Porventura foi esquecido que essa bodega é uma violação à Lei? À minha lei?
Ajudante - Nem por isso. É que nós estamos a borrifar-nos para ti mais para a tua lei. Nós somos sacanas sem lei.
Carlos Heleno - Pois é, gaja! E agora, como é que é? Já pias fininho. Pois para que não fiques sem palavras, vou dar-te algumas dum texto que eu li. «Exequiel 25:17...» Ai como é que era o resto? Esqueci...
(Soa um tiro e logo depois, por impulso instintivo, todos desataram a esmifrar a Supraconsciência com tiros, a qual ficou feita passador por entre gritos até jazer cadavérica no chão, mais rilada que um saco de plástico num ninho de ratos.)
Ajudante - Calma, pessoal, alto! (Esbracejava e gritava e só algum tempo depois é que os tiros pararam.)
Carlos Heleno (igualmente satisfeito mesmo sem se lembrar do texto que leu) - Huum... bem... também serve. Vamos a umas «jolas»?
Ajudante - «Bora»!
Alguém da multidão (grita) - Rodada de borla para todos!
( A populaça exultou de alegria e deixou o salão aos poucos.)
FIM
É mau, não é? Pois o original é pior ainda.
Que a caca esteja convosco!!!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!
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