quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Última Restauração


Caros amigos, hoje festeja-se um dos mais notáveis acontecimentos da História de Portugal: hoje é Dia da Restauração! Neste mesmo dia de 1640, um punhado de valentes irrompeu pelas escadarias do Paço da Ribeira e, quase sem derramamento de sangue, libertou o nosso arrasado e enfraquecido país do domínio tirânico do poderoso dominador castelhano depois de 60 anos de terror, puro vampirismo de Estado e escravatura. Passados tantos anos, nunca este feriado fez tanto sentido quanto hoje, talvez mais só no dia em que decorreram os acontecimentos que o motivam. Hoje, dia em que o nosso velhinho Portugal se vê cada vez mais reduzido à condição de estado vassalo da Alemanha ou província periférica do império que se reergue, em que o Estado se eclipsa em cortes e outras medidas suicidas e em que a cultura, as instituições, o nosso modo de vida e a própria pátria se parecem precipitar no abismo. E o que faz o nosso valoroso e patriótico Estado? Aquilo que já há muito tempo eu dizia que era previsível: extinguiu um feriado que já há alguns anos não comemorava.

À semelhança do que fiz o ano passado, vou apresentar um resumo dos Vinte e Cinco Capítulos que Filipe I teve de jurar cumprir nas Cortes de Tomar de 1581 se quisesse ser aclamado Rei de Portugal e compará-los com os nossos dias.
- Respeitar os usos, costumes, leis e privilégios de Portugal: usos e costumes deturpados e leis da União Europeia que prevalecem sobre as portuguesas.
- Os cargos públicos seriam sempre ocupados por portugueses, que puderiam ocupar funções idênticas em Espanha: continua a sê-lo, excepto a parte de Espanha, embora haja um conjunto de forças exteriores (União, F.M.I., etc.) que tem poderes muito superiores aos do Estado.
- O comércio com a Índia e a Guiné continuaria a ser exclusivo de portugueses: nem o de Portugal é, quanto mais...
- O herdeiro ao trono seria criado em Portugal: é verdade, se bem que lhe esteja vedado o legítimo direito de a ele subir.
- A língua portuguesa seria mantida: e é mas em condições ruinosas, deturpada por imposições brasileiras, estrangeirismos e valorização de aprendizagem de idiomas estrangeiros.
- Continuaria a circular moeda própria: já nem sequer há moeda própria!

Ora vamos lá ver se nos entendemos. Se nós expulsámos os Castelhanos por terem violado os Vinte e Cinco Capítulos de Tomar e explorado com tortura e sofrimento Portugal até ao tutano, o que se fará agora, que parece que estamos a começar a enveredar pelo mesmo caminho? Ninguém imagina os horrores a que a população foi então sujeita, imensamente muito maiores e prolongados que os que se terão vivido sob o Estado Novo, não haja ilusão quanto a isso. Portanto, há que lembrar para evitar cair na mesma situação.

O Estado tem o dever, mais, a obrigação moral de lembrar as datas importantes da História. No entanto, nas circunstâncias em que vivemos, optou por arrepiar o caminho do razoável e abolir quatro feriados, numa mostra de desprezo pela História, tradição, fé e direitos dos trabalhadores. É assim que sucumbem Corpo de Deus, Senhora da Assunção, Implantação da República (1910)/Independência pela assinatura do Tratado de Zamora (1143) e Restauração da Independência, que para o ano que vem já não serão mais feriados, apenas datas esquecidas. Não só nega aos que trabalham o direito de gozar dias de descanso, visto que as folgas são uma compensação que não pode ser paga em dinheiro pelo seu trabalho, como os sobrecarrega de impostos e mais tempo de trabalho. Como pretende o Estado reerguer um país explorando os trabalhadores e obrigando-os a trabalhar? Que rendimento tem um trabalhador a laborar contra a sua vontade? E que apreço tem ele pelos que o a isso o forçam? E que exemplo dá à população o Estado que patrocina a amnésia geral e manda para as urtigas aquilo que fez dele aquilo que é hoje, um Estado, para mais soberano, independente, ignorando um dos feriados que mais diz, se não o que mais diz à memória colectiva nacional. O que é a soberania? O que é a independência? Pois se os nossos governantes não sabem, eu digo: é A LIBERDADE!!!

Tenho hoje aqui uma musica que antigamente era tão importante que a ensinavam nas escolas primárias. Quem a quiser ouvir ou sacar, aqui está ela. Como é só a versão instrumental, deixo junto a letra. Dedico ao nosso estimado Primeiro-Ministro, aos restantes membros do Governo da Nação e ao excelentíssimo Presidente da República este que é, para ver se todos eles se conseguem ou não envergonhar daquilo que têm andado a fazer, o
HINO DA RESTAURAÇÃO



Celebremos Portugueses
O dia da redenção
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.

A fé dos Campos de Ourique
Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.

Para a frente, para a frente!
Repetir saberemos as proezas portuguesas.
Avante, avante!
É a voz que soará triunfal.

Vá avante mocidade de Portugal,
Vá avante mocidade de Portugal!
***

Meus amigos, não interessa que os governantes dos últimos anos tenham esquecido o que aqueles valentes fizeram há 468 por eles, pelos que já tinham morrido e por aqueles que haviam de se lhes seguir, incluindo os que os esqueceram e agora desprezam. O que interessa é que tenhamos aprendido e celebremos nós e bem e que lhes sigamos o exemplo em fervor patriótico e sentido de liberdade, hoje mais que nunca, que é o último Dia da Restauração. Celebremos Portugueses pois é cada vez mais evidente que, nestes dias em que a nossa adorada terra-mãe está moribunda, há-de ser crucial para a nossa sobrevivência enquanto Portugal, território-corpo e povo-alma unos e indivisíveis, mais dia menos dia tenha de vir uma Segunda Restauração.

Muito agradecido a todos quantos se lembraram da importância deste dia.

VIVA PORTUGAL!!!

Que a caca esteja com todos vós, meus compatriotas!




P.S.:NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 20 de novembro de 2011

Casa dos Degredos

Já tenho dito várias vezes que o panorama televisivo português é, no mínimo, deprimente e tende a piorar a cada dia que passa. Olhando para o que dava há uns 15 ou 20 anos atrás e o que temos agora, dá quase vontade de cortar os pulsos de desgosto. Note-se que a televisão caíu numa rotina: notícias, programas de conversa, notícias, telenovelas, programas de conversa, telenovelas, notícias, concursos parvos ou futebol e, só lá às quinhentas da noite, filmes e séries.

Um exemplo do quanto má a televisão se tornou é o já referido «Peso Pesado»(Lixado) da S.I.C., o que nos faz pensar no que será que ainda vão arranjar a seguir de pior para nos estupidificarem ou fazerem fugir dos ecrãs. Outro quase tão mau é o Big Breda VII ou VIII ou IX, sei lá, já perdi a conta, agora apresentado como a segunda edição da Casa dos Segredos, que é para que não se diga que é sempre a mesma coisa. Mas que refinada seleccão de gente saiu das audições! Vendo a sessão de apresentação do concurso, parece que foram escolhidos a dedo as mentes mais fúteis do país, sem ofensa para os visados, até porque quem diz a verdade não merece castigo. Quem tenha pachorra para ver o programa de vez em quando, depressa constatará que a primeira impressão não era muito errada... Vai daí e temos uns armados em engatatões, uma que pensa que África é um país americano, malta que desata à pinocada a torto e a direito com desconhecidos, enfim, é uma sequência inacreditável de maus exemplos. Até a Mamalhuda Siliconada arreou uma sova no Pasteleiro Caparroso e a produção não só não a castigou como desligou as câmaras para ocultar o caso. A própria noção do concurso é em si perversa: ganha quem mente e é bem sucedido, incentiva-se ao engano e à mentira e é-se recompensado por isso!

Às vezes, dá quase vontade de haver uma casa assim não para que esta gente compita por um prémio mas para que fique apartada do resto da população que é para não a contagiar com a sua inconsequência mental. E já que temos a ideia à mão, porque não adicionar-lhes também todos aqueles de que nós gostaríamos de nos ver livres, ein? É bom, não é? O pior é se ainda somos incluídos no lote.

Por favor, eu peço, eu suplico, já chega de concursos da treta, já é impossível suportar tanta estupidez! É incrível que isto continue e que se continuem a fazer notícias e fortunas às custas de tanta parvoíce!

Que a caca esteja convosco!

domingo, 16 de outubro de 2011

Novidades, novidades...



Ora vamos lá ver.



- Estoiraram na Madeira quase tanto quanto o Estado inteiro estoirou com a diferença de ninguém ter dado por isso.



- O Governo Regional tem uma dívida superior a 6 biliões de erocuzitos.



- O Alberto João Jardim fez um calote destes, tenta fomentar uma espécie de ridícula guerrinha entre Madeira e Continente e, mesmo assim, ainda consegue enganar o suficiente para ter maioria absoluta nas eleições regionais.



Meus amigos, quer dizer, qual Continente, qual carapuça:






Novidades, novidades...






... só na Madeira!






Que a caca esteja convosco!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Já saíu! A edição nº 5 da Revista Model Factory 43!




Como quem me conhece certamente sabe, a mania das miniaturas automóveis é o mais próximo que estou da outra "mania-mãe" que são os automóveis. Como tal, é com prazer que apresento a mais recente publicação da Revista Model Factory 43, uma revista bimestral acerca de modelismo e coleccionismo à escala e que também tem vindo a ser veículo das mais variadas e curiosas histórias em redor do tema do automobilismo.

É certo que posso ser suspeito ao falar aqui deste tema (quem ler a revista há-de perceber) mas sendo uma edição online feita por "carolice" pelo fórum ModelFactory43, apresenta uma maturidade e conteúdo extraordinários. Ao fim de apenas 5 números e já vai com 55 páginas de "polpa" e aparenta tender unicamente a aumentar! Uma grande salva de palmas à MF43 e em especial ao amigo Smiley, que tanto trabalho teve a compor toda a publicação (com um resultado final notável, devo acrescentar).

Fica então o link para ler, quem gosta de "carrinhos" ou de "carrões":


Que a caca esteja convosco!!!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Festas do Centenário da Funcheira

Caros amigos


Confesso, eu adoro comboios, principalmente aqueles antigos, com as locomotivas a vapor que largam mais fumo pela venta que uma chaminé de Estarreja. Daí o artigo que se segue.


Tive oportunidade de ir este Sábado, dia 23, às festas dos 100 anos da estação e povoação da Funcheira, local de encontro da Linha do Vale do Sado com a Linha do Sul, povoado outrora pulsante de vida e beleza artística e hoje quase desabitado(cerca de 50 habitantes) e um pouco degradado.


Estas iniciaram-se às 11:30 com uma missa solene na capela improvisada, a Escola Primária desactivada, em honra da estação. Depois de uma pausa, que lá o calor é daqueles tais em que até assa canas à sombra, e este dia até era escapatório graças a uma certa aragem agradável, a animação foi retomada, não às 6 da tarde, como era previsto, mas só às 7:15 com o lançamento do livro «Funcheira: Tesouro Perdido dos Caminhos-de-ferro». Apesar de um discurso breve, hesitante e de notório improviso, que evidencia a falta de hábito nestas lides e o embaraço que isso causa, o jovem autor, Miguel de Góis Silva, lá arrancou palmas ao público por duas vezes com os agradecimentos da praxe a quantos o apoiaram, com a lembrança do passado glorioso dos caminhos-de-ferro e a afirmação de que Portugal precisava de ser salvo e que, se todo o país seguisse o exemplo da Funcheira e de Garvão, as duas terras vizinhas que, dizia, compartilhavam dificuldades e destinos e, por isso, deviam manter-se sempre unidas, então tudo seria bem sucedido. Por fim, rematou a curta intervenção dizendo que a Funcheira pode ter morrido para os comboios e ter sofrido as maiores agressões mas não morreu, sobrevive, e que, por isso, não era nem ele nem o livro que estavam de parabéns mas a Funcheira e aqueles que faziam a sua história a cada dia.


Com o refrescar do dia, a multidão foi-se chegando e tornou-se tão avultada que as mesas e cadeiras destinadas aos comes e bebes não deram para tanta gente. Entretanto, Telma Cristina fazia toda a gente dar um pèzinho de dança com a sua voz e o indissociável órgão. Seguiu-se o grupo Maravilhas do Alentejo e, já depois do jantar e da reentrada em cena da organista-vocalista, o Rancho Folclórico da Venda do Alcaide, conjunto notável no meio e cheio de pedalada, apesar do piso irregular e áspero do Largo do Dormitório. Na sua pausa, apareceu não o conjunto rockalheiro Us Batnavó mas o grupo castiço de Santa Clara-a-Velha «Gentes do Alto Mira». Ao que parece, a história dos Batnavó foi só uma partida do engraçado Senhor Marques, o artista de renome na região, membro do dito grupo santaclarense. Depois das suas figuras castiças, enebriantes melodias e vozes femininas que muito cativaram o público, só interrompidas, um pouco à paposseco, para uma entrega formal de exemplares do livro às entidades e artistas envolvidos, o rancho voltou ao ataque e acabou de render os espectadores aos seus encantos. Por último, Telma Cristina continuou a animar os presentes pela madrugada fora.


Em simultâneo às diversões descritas, decorreu no mesmo espaço uma exposição de fotografias antigas que muitas saudades extraíu àqueles que a visitaram.


Bonita festa popular cheia de animação, decoração como manda a tradição e barraquinhas de venda dos referidos confortos para a barriga e a cabeça, que contou até com actuações paralelas de acordeonistas fora do alinhamento e durante a qual não se registou qualquer problema. Parabéns Funcheira!


No que diz respeito ao livro lançado nesse dia, o qual já muita gente comprara, lera e comentava àvidamente mesmo antes da sua publicação oficial, relata a história da Funcheira e faz não só uma viagem pela cronologia da existência da povoação mas também um retrato da vida da população, com especial destaque nos tempos aureos. Faz também um estudo das causas da decadência da «aldeia-estação» e compara-a com Tunes-Gare, à qual deixa alguns conselhos, e sugere algumas possíveis soluções para alguns dos problemas. Apesar de não ter pròpriamente a ver com o tema da obra, não deixou de ser digno de nota positiva por alguns dos presentes a mensagem em rodapé do frontispício do livro:


«Este livro não está escrito consoante o Acordo Ortográfico porque o autor é contra a estupidez.»


Que mais se pode acrescentar? Concordo plenamente!


Que a caca esteja convosco!


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 10 de julho de 2011

Zarolhos d'Água: O Espelho do Armando Gama







Caros pombos amigos










Tive oportunidade de ler há algum tempo o derradeiro volume da saga de Harry Potter, um clássico literário anunciado antes sequer de ter sido lançado, arriscarei mesmo dizer escrito: «Harry Potter e os Talismãs da Morte». Reconheço que cheguei a certa parte do volume, virei-me para o lado e disse: «quanta ganza não fumou esta mulher!» É que chega-se a pouco mais de metade do livro com uma sensação idêntica à que tem quem leu «As Aventuras de Huckleberry Finn»», ou seja, a de que passou a história toda a engonhar para tudo explodir num grande final para o qual o engonhanço foi absolutamente necessário. As diferenças aqui são que o explodir é literal e a escala é, em tudo, muitíssimo maior. Chegamos à conclusão que a nata da saga foram «A Pedra Filosofal» e «A Câmara dos Segredos» e os restantes foram o engonhanço (e que espectacular engonhanço) até a um final digno da mais alucinogénica e brutal produção do Jerry Bruckheimer, com todo o chavaçamento e arraso que é sua característica. Agora que o último filme vai estrear daqui a poucos dias, termina uma era, aquela em que uma magnífica obra literária marca uma geração, e esta marcou profundamente, tal como a anterior foi marcada pelo «Senhor dos Anéis», pelo menos a quantos tiveram a ele acesso. Deste modo, se o filme fizer jus ao livro, aconselho vivamente o seu visionamento e garanto que será uma das mais memoráveis obras primas da Sétima Arte.










Mas e o que é que isto tem a ver com os «Zarolhos d'Água»? É que andava eu há uns tempos a ver uns vídeos do Festival da Canção no Youtube e, quando calhou ver o de 1983, reparei em duas coisas. Uma foi o quanto está diferente a apresentadora, Valentina Torres, que conheceu neste festival o seu futuro marido, Armando Gama, que venceu a edição com «Esta Balada Que Te Dou». A outra foi o mais apontado comentário ao vídeo:










«Uma bonita balada interpretada pelo Professor Snape do Harry Potter.»










Fiquei algum tempo à procura de alguma ligação para um outro vídeo mas não encontrei nada. Foi então que foi como se tivesse sido atingido por uma moca de Rio Maior: era o Snape que tocava e cantava! Aquelo cabelo escorrido e a farpela preta, até mesmo a penca, era tudo do Severus Snape! Fiquei eu então aqui a pensar. Será que o Armando Gama tem algum irmão gémeo desconhecido ou cuja identidade foi ocultada dos «Muggles» devido ao seu talento na feitiçaria ou será que ele tem uma segunda identidade e é, para além de famoso músico, um grande produtor de poções mágicas? Bem, só há uma maneira de saber, há que reparar bem na tatuagem no braço... às tantas o nosso simpático cantor já teve uma carreira como devorador da morte.










Que a caca esteja convosco!

























P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 26 de junho de 2011

Peso Lixado

Que há bons programas na televisão, é grande verdade. Que muitos outros são puro lixo, é inegável. Um exemplo perfeito disso é o «Peso Pesado», da S.I.C., a eterna rival da T.V.I no que respeita a concursos absurdos. Nunca liguei muito a esse programa mas, pelo que via nos anúncios, não podia achar maior estupidez. Quer dizer: os médicos passam o tempo a dizer que não se devem fazer dietas loucas e que a perda repentina de peso ou os exercícios físicos excessivos são prejudiciais à saúde, não é? Vi daí e o que é que o pessoal faz no «Peso Pesado»? Orelhas moucas aos médicos, pois claro.

Certa noite, tive de ir à casa de uma vizinha. Na T.V.I. tínhamos os «Perdidos na Tribo» e na R.T.P. as marchas populares. O primeiro tem o seu interesse antropológico, por muita parvoíce que se veja, em especial da parte do/da/coisa Castelo Branco. A segunda é uma festa alegre, bem castiça e portuguesa. Por azar, a minha vizinha só considera a existência de dois canais, S.I.C. e T.V.I., e não gosta dos «Perdidos na Tribo». Por consequência, tive de gramar durante uma eternidade de pseudo-drama com cenas de arrancar lágrimas a ferros e puxar ao vómito. Para além de mandarem os conselhos médicos às urtigas, ainda exploram a desgraça alheia e as relações azedas entre as pessoas (até irmãos). Em poucas palavras, é dos programas mais fúteis e isentos de neurónios jamais produzidos na televisão portuguesa. Comparado com isto, o «Perdidos na Tribo» é um autêntico documentário com o brilho da B.B.C.! E as marchas... ai as marchas...

Que a caca esteja convosco!


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 12 de junho de 2011

Sòcratezinhos de Coentrada (receita das Caxinas)

Disse o nosso ilustre Primeiro-Ministro durante a campanha eleitoral, em passagem pelas Caxinas:

- O Fábio Coentrão é mais admirado na minha casa que eu na dele.


Então, críticos? Quem disse que José Sócrates só diz asneiras? Este é um exemplo de algo muito acertado. Se for multiplicado por muitas casas, ainda mais certo se torna.


No próximo boletim cúlinário, o Chefe Migas ensinará a fazer Passos Coelho à Caçador. Ele que não siga o exemplo do Cherne Durão Barroso, que cozinhou demasiado depressa e perdeu logo o seu estado de graça. Há que manter lume brando.


Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 22 de maio de 2011

Troika Baldroika

Quando vejo os estrangeirismos que abundam hoje em dia, nem sei se me dá vontade de rir ou de chorar. Um dos mais recentes é o de chamarem ao trio de técnicos do Fundo Monetário Internacional a «Troika». «Troika»? Que é isso? Ah, dizem que é «três» em russo. Então já que falamos português, porque não continuar a chamar-lhes... técnicos do F.M.I.?




Já sabemos que isto dos estrangeirismos é uma moda foleira: as pessoas têm a mania de os usar, seja ou não de maneira acertada, de modo a mostrarem que são muito entendidas e cultas. Muitas vezes conseguem demonstrar que o são mesmo... tanto quanto um calhau. Ai, perdoai-me, calhaus amigos, que já vos insultei! Adiante, já que vamos nisto, eis umas boas sugestões de estrangeirismos que podem ser adoptados na linguagem corrente e sua devida correspondência em português:


tamagochi......computador


promenade....cumprimento de promessas eleitorais


Kalashnikov..Repartição de Finanças


kaput.............carro avariado


babuska.........incontinência de saliva perante moçoilas jeitosas


small..............Sumol de laranja


big..................mamas da Kelley Hazel


Kilimanjaro...o que um fulano diz quando tem fome


Osterreich....ostra rachada


kalinka..........máquina a trabalhar


zeitung..........porrada na cabeça


kidnapp........guardanapo de reduzidas dimensões


deputy..........indivíduo frequentador de mulherio de vida pouco decente




Enfim, há tanto por onde escolher. A nossa estupidez tem os mesmos limites da imaginação.




Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 8 de maio de 2011

Mercenariato Presidencial?



Nos últimos dois ou três anos, tem sido cada vez mais frequente o número de vozes que clamam contra o estado a que as coisas chegaram, que fazia falta um novo Salazar (ou uma equipa deles) e que os políticos são uma cambada de corruptos. Alguma mentira? Bem, fico com a pulga atrás da orelha ao ouvir mais gente que foi do tempo do Estado Novo a dizer coisas destas do que os que nasceram depois.










Há dias, conversava com uma amiga minha, que se vai embora para a Inglaterra. Ela estava muito desiludida com as coisas em Portugal. «Não há segurança nem respeito por ninguém» (confere), «é um salve-se quem puder, não há lei» (confere), «esta cambada que nos governa está a destruir o país» (se confere!). A certa altura, falando do casamento real de há dias, disse ela:










- Ao menos, os reis de lá, da Inglaterra, não são uns mercenários, como os presidentes daqui.










Ora eis uma afirmação curiosa que me ficou no ouvido. Deixando a questão monárquico-republicana de lado, não é preciso pensar muito para chegar à simples conclusão de que o desabafo teve um fundo de verdade. Os reis são, por natureza, apartidários e imparciais, isto é, não se conotam nem devem conotar com nenhuma facção se quiserem ser o soberano de todos os seus compatriotas. Com um presidente, isso é impossível. Em primeiro lugar, a eleição pressupõe que ele foi a escolha de alguns e não de todos. Haverá quem diga que um rei não é uma opção, é uma imposição. Amigos, quem saiba da História e dos costumes, sabe que não é assim. De facto, alguns candidatos e legítimos herdeiros a reis foram rejeitados e outros em funções foram depostos. Em segundo, o peso dos partidos é tão grande (em rigor, no nosso país e em muitos outros, não se pode sequer falar em Democracia mas em Partidocracia) que é impossível alguém não filiado ou apoiado por partidos ser eleito presidente da República. Partidos estes sempre ligados a grupos de interesses, claro. Consequentemente, e tendo em conta a conduta dos presidentes, com desagradável frequência de sentido partidarizado ou partidário, aqui se coloca a questão: não serão mesmo os presidentes mercenários dos partidos a soldo da República ou mercenários da República a soldo dos partidos? Em boa verdade, confesso que acho que não, que deve ser mais do género de mercenários republico-partidários a soldo... dos contribuintes. É que o financiamento tem de vir de algum lado e não será dos grupos que apoiam os partidos, como é óbvio, se esses se ligam aos partidos com vista a ganhar qualquer coisinha. Tira-se dos contribuintes, e muitas vezes inexplicàvelmente, muito. Note-se, por exemplo, que a nossa Presidência teve gastos superiores a qualquer outra presidência ou coroa europeia, segundo reza a comunicação social. Se não me engano, 5 vezes mais que a Coroa Espanhola. E o que é que o Escavacado faz que o Joanito não faça? Bem, acho que, em funções de Estado, ambos fazem o mesmo: nada.










Ainda assim, esta imagem peculiar não me sai da cabeça. Se a nossa terra pudesse falar, não achava piada nenhuma. No entanto, deve ser engraçado ver o Cavaco de fita na cabeça e metrelhadora na mão, com umas cintas de balas a rodear o tronco, em selvática caça ao voto, qual Steven Seagal ou Chuck Norris da vida real. É de rir de tanto chorar!










Que a caca esteja convosco!















P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 10 de abril de 2011

Cinema Purgatório: «Shaolin Soccer»

Ah, finalmente o Sócas e a sua pandilha de seres inqualificáveis foi ao ar! Iupi! Só foi pena não se terem demitido há uns 4 ou 5 anos! Agora sabe como se fosse tarde demais. Mas para todos os efeitos, temos de nos pôr a pau com os que se seguem, que decerto não serão melhores, e com os maganos do Fundo Monetário Internacional, que estão de volta para cravar a unha. Está tudo doido, meus caros pombos amigos, tudo doido. Veja-se, por exemplo, a vaga de confrontos entre portistas, benfiquistas e polícias. Então e as eleições do Sporting? Melhor: a conferência de imprensa do Paulo Futre. Sim, aquilo é que foi a pura da loucura, com as balelas do Porshe amarelo e a alucinante ideia dos voos «charter» da China para a rapaziada de olhos em bico vir a Portugal ver o melhor jogador chinês a jogar e mais a digressão e as comissões... Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, quanta coca não haveria nos brônquios do homem! Sim, só isso pode explicar a sucessão inconsequente de alarvidades! Já que se fala em futebol e China, veio à minha memória a lembrança dum filme que passou na televisão há uns 10 ou mais anos. Não pude ver pois estava a trabalhar mas tanto me falaram dele que eu fiquei cheio de curiosidade. Ao que parece, foi a película mais psico-marada que alguma vez a televisão portuguesa ousou exibir. Sim, mais ainda que a autópsia ao extraterrestre ou o «Era Uma Vez na China». Durante anos, pensei cá para mim: «caneco, não hei-de morrer sem ver o "Shaolin Soccer"». Há alguns dias, tive essa oportunidade e as minhas espectativas não saíram nada goradas. É um filme chinês co-produzido pela Miramax e a Estrela Sobre os Mares (não sei como se diz em cantonês nem mandarim, pelo que não faz sentido dizer o nome em inglês) que conta a história de uma antiga e falhada equipa de futebol que é reunida por um moço novo que parece que andou a ver muitos filmes do Bruce Lee. Esta equipa adapta ao futebol técnicas do kung fu e vai disputar a Supertaça da China. No entanto, um antigo adversário, hoje milionário, não lhes quer facilitar a vida, pois pretende o título para a sua equipa. É, de facto, um dos filmes mais alucinantes e alucinados alguma vez feitos. Para quem gostou do que leu, espere só até ficar com este aperitivo. E como o que é bom vem aos pares, ouvi dizer que existe um «Shaolin Soccer II»! Ena pá, agora é que o Paulo Futre vai atingir o Nirvana! É que se um filme destes é uma verdadeira ganza audiovisual, dois então são a mais brutal moca desportiva e cinematográfica da história da psiquiatria. Que a caca esteja convosco! NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!! TOCA DE SUBSCREVER A INICIATIVA LEGISLATIVA PARA O REVOGAR!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Iniciativa Legislativa do Cidadão: REVOGAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO


Pois é, esta pode ser uma das últimas hipóteses de salvar a língua portuguesa desta agressão.

Existe um mecanismo que pode ser usado pelos cidadãos. Raramente é empregue pois é quase desconhecido mas já tem sortido efeitos em várias ocasiões. Trata-se da iniciativa legislativa do cidadão. Está uma em curso com vista a revogar e banir definitivamente o Acordo Ortográfico da face da Terra. Há conhecimento, tal como eu tinha previsto e falado aqui atrás, há uns tempos, de que há projectos de novos planos de regulamentação da grafia com vista a tornarmo-nos cada vez mais parecidos aos Brasileiros, no que diz respeito à maneira de escrever e, por consequência, falar. Para travar esta degeneração e corrompimento anunciado, é só adquirir o impresso, que se encontra de graça em

http://ilcao.cedilha.net/?page_id=273

preencher com os dados pedidos e enviar para a morada indicada. Temos de ser é rápidos pois o prazo expira no final de Abril são necessárias 35 000 assinaturas.

Mais não somos demais para salvar e salvaguardar a nossa língua-mãe. Já que a Academia das Ciências abdicou dessa função vamos nós todos mostrar que somos os derradeiros guardiões da língua e, em última análise, de Portugal.

PELA NOSSA ILUSTRE LÍNGUA PORTUGUESA!
POR PORTUGAL!
NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

Que a caca esteja convosco!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Como criar uma televisão pirata


Por falar no Festival da Canção, houve uma intérprete que, na entrevista que era mostrada antes da apresentação da canção dela, dizia que o desejo secreto dela era criar um canal de televisão. Ó Senhora! Não seja por falta de conhecimento! Para os que dizem que eu sou contra as tecnologias, aqui vai uma lição.


Note-se que eu nunca fiz isto, apenas o achei escrito num livrete de uma exposição em Bruxelas, em 2008, e passo a dizer o que lá vem.


É necessário, em primeiro lugar, algum material.

1 - Modulador de alta frequência. É um dispositivo que serve para converter um sinal de vídeo em sinais que possam ser emitidos pela antena. Pode ser comprado numa loja da especialidade ou retirado de qualquer leitor ou gravador de cassetes de vídeo que tenha ligação à antena, vulgarmente designada por «antenna-out». É este dispositivo que define a frequência e o canal em que será emitido o sinal. Existem vários modelos com espectros de frequência de diferentes amplitudes mas a maior parte emite dos 175 aos 862MHz, correspondentes aos canais 5 a 69. Os moduladores dos leitores de vídeo costumam emitir para os canais 3 e 4. Alguns fabricantes actuais são a Axing e a HAMA.

2 - Emissor ou amplificador de sinal. Como o sinal que sai do modulador é relativamente fraco, tem de ser amplificado. A maior parte, de 20, 25 ou 30dB, emite entre os 82 e os 862MHz. Existem à venda em lojas da especialidade. Pode haver um ou vários ligados em cadeia. Fabricante mais comum: Axing.

3 - Antena dipolar ou «yagi». Quanto mais baixa for a frequência em que se transmite o sinal, maior e mais precisa a antena tem de ser. É dificil encontrar a antena certa. Como tal, sugere-se aconselhamento junto dos rádio-amadores. Existe uma boa antena fabricada pela companhia alemã HAM, a Flexayagi 7015. Pode ser usada para transmitir entre os 430 e os 440MHz (canal 21) e tem a vantagem de ser portátil.

4 - Cabos coaxiais com tomadas variadas, nomeadamente:

a - com machos F para ligar o modulador ao amplificador ou, se forem vários, os amplificadores entre si;

b - com tomada N, para ligação à antena;

c - se tal for desejado, com tomada de antena para ligar a televisão directamente ao modulador, o que normalmente se faz para testar.


Agora que temos o material, vamos fazer as montagens passo a passo.

1º - Ligar o modulador desde a sua saída TV/VCR-OUT à correspondente IN do amplificador com um cabo com machos F em ambas as pontas.

2º - Caso haja um segundo amplificador, ligar a saída OUT do primeiro à IN do segundo com um pequeno cabo coaxial de machos F em ambas as pontas.

3º - Ligar a saída OUT do último ou único amplificador à antena. Normalmente, as antenas têm uma Tomada N Um cabo coaxial com machos F em ambas as pontas serve perfeitamente. Converte-se com facilidade um macho F em tomada BNC e uma BNC em N.

4º - Ligar o aparelho necessário (computador, leitor de vídeo ou DVD ou outro qualquer) ao modulador.


Muito bem, minha senhora, aqui está montado o «estaminé» para que Vossa Senhoria possa começar as emissões regulares dum canal local. O alcance do sinal pode ir desde as casas mais próximas até a largas centenas ou até alguns milhares de metros! Dada a qualidade miserável a que chegou a programação em geral (lá escapa um ou outro programa) dos nossos quatro manipuladores/manipulados ou sensacionalistas canais, onde se fala e escreve mal e depressa e escasseia o bom exemplo, é sempre bem-vinda uma alternativa para os felizardos que a consigam captar. No entanto, há um pequeno problema, que é o que me levou a não montar o meu canal pirata. É que diz no número 1 do Artigo 66º da Lei da Televisão (32/2003 de 22 de Agosto) que a difusão não autorizada é punível com 320 dias de multa ou até 3 anos de prisão.


Enfim, há que esperar por uma lei menos castradora ou então, vendo o estado decadente das coisas, pela mais provável extinção definitiva do sistema judicial.


Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

O Festival é bom para a luta!

Mais uma vez, o Festival da Canção surpreendeu. Depois de termos falado do tema «pimba» de há anos, o «Dança Comigo», do Emanuel e interpretado pela Sabrina, vencedora com todo o mérito, ainda que com um poder vocal limitado, eis que surgem os Homens da Luta com «Luta é Alegria». Confesso, não vi o Festival, o que me deixou a pensar, no dia seguinte, quando soube do acontecido, que das duas uma: ou o Festival foi mesmo mau ou o povo confundiu as coisas e aproveitou a ocasião para mostrar outro cartão vermelho aos jogadores do costume, que teimam em não sair do campo. Entretanto, vi a repetição do Festival e cheguei à conclusão que foi um pouco das duas coisas.
Em relação ao ano passado, o Festival foi bem mais fraco. Contou com alguns temas dotados de boa sonoridade mas que falharam num ou outro aspecto. Não querendo nomear, um era bem interpretado e era chamativo ao ouvido mas era muito repetitivo; noutro havia uma voz notável para uma melodia do tipo de disco riscado e outra tinha tudo de bom menos a voz do intérprete, que não tinha grande projecção. De resto, há a assinalar um problema na transmissão comum aos últimos anos, que é um eco brutal que parece ensurdecer-nos com os instrumentos e não deixa ouvir as vozes com a nitidez desejada.
Em suma, deu-me graça o Senhor Feist ter dedicado a música dele aos que acreditam no Festival. Quê? Ainda há alguém que acredita no Festival?
Quanto à vencedora, não me pareceu uma má canção. É animada, um tanto ou quanto repetitiva (há piores) só que peca pela interpretação, que não tem vozes que se apresentem. Vejamos se afinam melhor na Eurovisão. E dadas as circunstâncias, como não podiam eles ganhar? Basta ver a ruina a que o país chegou, agora com os camionistas e os maquinistas parados e os protestos do passado fim-de-semana. Nós estamos mortinhos para ver o Sócrates e os seus comparsas darem o pinote! Vendo o que se avizinha, até já desejo que o previsível sucessor (P.S.D.) caia logo também. Então não é? Aumentar impostos, facilitar despedimentos, privatizar, encerrar, extinguir... Força! Isso é bom para a luta!
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

terça-feira, 1 de março de 2011

Estudo sobre as letras «mudas» (será que o são?)

Esta coisa do «Acordo» Ortográfico deu-me a volta à cabeça desde o início e não sei se descansarei enquanto não erradicarem essa treta da face da Terra. Mas vamos ser neutros e olhar tudo de uma perspectiva científica.
Tal como já referi, NADA TENHO CONTRA O BRASIL.
Desde que o «Acordo» se reergueu das cinzas e foi aprovado pelos nossos políticos da treta, tenho andado a fazer um simples estudo que incide sobre a maior teimosia dos acordistas (ainda que não a mais grave na escrita, se bem que a pior na oralidade) e que passo a explicar.
Serão as letras erradamente designadas por mudas mesmo mudas? Já vimos que não o são na medida em que podem não ser ditas mas servem de indicadoras da abertura de vogais quando a acentuação não pode ser usada e desambiguadoras, agrupando e apartando palavras idênticas nas respectivas famílias. Mas, excluindo estes factores, não serão, de facto, ditas? Comecei a pensar nessa hipótese quando constatei que muitas das consoantes que os «ilustres» académicos consideravam mudas e que, portanto, deviam ser excluídas da grafia, eram proferidas por mim. E não o seriam pelos outros também? Comecei a prestar atenção à dicção de cada pessoa que ouvia falar, das mais variadas partes do país.
Conclusões
A maneira de falar difere muito de pessoa para pessoa, mais do que de região para região, ou seja, podem haver diferenças de pronúncia de zona para zona mas, dentro de cada área e, logo, pronúncia, há maior variação entre cada indivíduo, sendo que a maioria dos familiares se assemelham entre si. No que concerne às consoantes em causa, não são proferidas em absoluto com o valor alfabético correspondente (isto é, o c como em cão, etc.) o c da sequência se antecedido por a e na quase totalidade das palavras em que é antecedido por e (note-se, por exemplo, secção) e o p de baptismo e suas derivadas. No respeitante a todas ou quase todas as restantes, denotei gente que as pronunciava (até mesmo um miúdo que dizia «tractor» com o seu respectivo c), o que indica que são passíveis de serem pronunciadas. Sendo assim, aplicar o «Acordo» implica banir a possibilidade de poderem ser pronunciadas, alterando no sentido dum abrasileiramento e empobrecendo a língua.
Meus amigos, por algum motivo estas letras não foram excluídas na regulamentação de 1945, ao contrário de outras «igualmente» mudas. Acrescento ainda e por fim que talvez fosse boa ideia falarmos mais devagar para sermos mais explicados, melhor entendidos e não comermos letras, pois é evidente que a pressa é o principal motivo da supressão de letras na oralidade e já se sabe que a pressa é inimiga da perfeição.
Não tenho dados concretos registados para vos mostrar mas desafio-vos a sair à rua e repetir o meu exercício. Num ápice se verá que, se nem as pedras são mudas, como o podem ser as letras?
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Refinada Selecção: O Melhor dos Moonspell

Continuando num tom sério, como se nós nunca falássemos a sério aqui no Pombocaca (vá lá, às vezes até falamos, como nos casos anteriores, está bem?) profiramos algumas palavras sobre os Moonspell, o mais famoso conjunto rocalheiro-metaleiro do país. Têm uma relativamente vasta variedade de temas e têm tido grande êxito, principalmente nestes últimos anos. Eis então a questão. Qual será o melhor de todos os temas que eles já tocaram? Sinceramente, confesso que o seu género não é o da minha preferência e poucos temas conheço mas, ainda assim, arrisco dizer que estamos todos em total acordo se eu disser que é, sem sombra de dúvida, o que se segue:

Sim, senhores, a interpretação que eles fizeram para os Gato Fedorento do tema de abertura do «Abram Alas ao Noddy» (Noddy!). Não há como negar. Aquelas caras de choque dos miúdos e de todos os telespectadores em geral perante as vozes guturais, o dedilhar pesado das guitarras eléctricas, o som trovejante da bateria e o boneco enforcado diziam tudo.

É ou não é o melhor de todos os temas que os Moonspell alguma vez interpretaram?

Que a caca esteja convosco!

P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográfico) Parte VI

AS 23 TESES CONTRA O «ACORDO» ORTOGRÁFICO
Depois de tudo isto, pode-se chegar a, pelo menos, 23 conclusões quanto a este «Acordo» Ortográfico.
1 - Na traduz na escrita a oralidade da língua portuguesa.
2 - Vai contra a noção de ortografia.
3 - Não unifica a grafia, antes a divide ainda mais e corrompe a língua.
4 - Apenas pode ser usado na tradução para escrito da linguagem empregue no Brasil, a qual tende, invariavelmente e mais cedo ou mais tarde, a tornar-se numa nova língua.
5 - Tem fundamentos tão fracos que qualquer pessoa de pouca instrução vê que não está correcto. Basta um simples exercício de comparação de palavras para o comprovar.
6 - Torna um estudo etimológico quase impossível em muitas palavras devido às confusões que cria.
7 - Faz com que palavras sem relação de qualquer tipo fiquem a pertencer à mesma família.
8 - Cria problemas onde não os há.
9 - Alega e emprega falsidades nas suas elacções.
10 - Cria a discussão das letras mudas, que antes não existia, a qual é uma falsa questão porque elas não são mudas, apenas são lidas de forma diferente da mais comum, assumindo à mesma um papel activo na construção e leitura das palavras. Daqui se antevê um hipotético futuro questionamento quanto ao h quando não antecedido de c, n ou l e ao u mudo.
11 - Não foi feito por gramáticos, linguístas ou qualquer tipo de especialistas sobre a matéria mas provavelmente por políticos ou alguém a seu cargo pois revela, quer nas bases quer nas notas explicativas, completo desconhecimento do funcionamento da língua e da realidade da oralidade.
12 - Constitui um atestado de estupidez à população em geral e às crianças em particular por considerar que lhes é difícil decorar o modo de escrever das palavras com letras mudas e compreender o porquê da sua existência, como se as que aprendem línguas de ortografia mais complexa fossem mais espertas que as lusófonas.
13 - É desnecessário, já para não falar em inútil.
14 - Torna obsoletos, sem razão para isso, inúmeros livros, em particular técnicos e escolares.
15 - Torna evidente que os acordistas e aqueles que por este diploma se regerem nada percebem da língua e nunca dela terão pleno conhecimento.
16 - Viola, pelo menos, a Constituição (Artigo 9º) e a Lei do Património (Lei Nº107/2001 de 8 de Setembro, artigo 2º) e é punido pelo Código Penal.
17 - Torna evidente que a Academia das Ciências de Lisboa e o Instituto Camões falharam a sua missão de proteger a língua portuguesa e devem, por isso, ser sanados se querem reabilitar a sua credibilidade.
18 - Serve interesses políticos e económicos do Brasil, em detrimento da pureza da língua.
19 - Torna evidente a já sabida inaptidão e incompetência dos governantes portugueses.
20 - Faz de Portugal motivo de chacota por se rebaixar e submeter a uma ex-colónia (é só ver a imprensa estrangeira).
21 - Trás descrédito à língua portuguesa por nunca ter grafias fixas por muito tempo.
22 - Faz antever uma nova reforma ortográfica para breve.
23 - Nunca será empregue por alguémsensato e minimamente conhecedor da língua portuguesa.
A língua é uma ciência. Pode ser catalogada e explicada por uma série de normas e fundamentos mas não é domínio de ninguém e, como tal, não pode ser legislada. É como decretar que os planetas são obrigados a circular no sentido inverso ao que tem sido comum até hoje. A ortografia é uma teoria científica sobre a língua que isa explicá-la de forma visível e em concordância com a sua gramática. Actualmente, nenhuma norma traduz melhor a língua portuguesa na escrita que a estabelecida pelo acordo firmado em 1945 na sequência da Conferência Interacadémica de Lisboa, com as devidas correcções. A insistência em continuar a mudar sucessivamente a grafia da língua não lhe trará qualquer benefício, antes descredibilizá-la-á ainda mais. Perante estes argumentos, usemos da nossa razão, sejamos sensatos e digamos «NÃO» a este acordo que nunca o foi e mais não é que o mais grave dos pontapés na nossa língua.
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográgico) Parte V


A VERDADEIRA RAZÃO DE SER DO «ACORDO» E CORRECÇÕES SUGERIDAS À NORMA VIGENTE


Todos os erros constantes no «Acordo» Ortográfico de 1990 podem e devem ser corrigidos. Claro que fazendo-o, ficava-se com a regulamentação de 1945 que, quer queiramos quer não, é a que melhor se adapta à língua portuguesa. É provável que existam mais erros mas os apresentados são os que mais se destacam à primeira vista. As normas de 1945 também não eram perfeitas, como nada o é neste mundo, eram-no tanto quanto possível e também têm algumas falhas. Eis três lapsos que podiam ser corrigidos.


1 - Em relação aos tratos, no que respeita a graus académicos e cargos ocupados ou dignidades, é previsto o uso de inicial maiúscula em casos protocolares e minúscula nos restantes. Recorrendo à regra geral, o que é sensato é escrever cominicial maiúscula quando designe o nome próprioda condição ou cargo e com minúscula nos casos vagos, gerais ou comuns.


2 - As palavras salve e ave. Em qualquer caso não levam acento na segunda sílaba, o que cria confusões entre as formas em que as respectivas vogais são fechadas e aquelas em que são abertas e acentuadas. Pela lógica, deve haver distinção gráfica, já que a há oral e com notória disparidade, entre salve (conjugação do verbo salvar na primeira ou terceira pessoa do singular no Presente do Modo Condicional) e salvé (cumprimento) e entre ave (animal) e avé (cumprimento).


3 - O problema principesco. Oficialmente escreve-se príncipe, o que não faz sentido porque ninguém diz príncipe mas sim príncepe. Mais: a raiz etimológica desta palavra é o termo latino princeps. Alguns pseudo-gramáticos falam num fenómenode dissimulação do i em e, o que não convence ninguém nem faz sentido porque só é possível o contrário, que é o e em i, como em preocupação, por exemplo. Haja bom-senso. Diz-se príncepe? O étimo é com e? Então escreva-se com e e não com i, ficando assim em concordância com o seu feminino, princesa, não princisa, do latim princepsa. Há quem possa dizer que não se pode nem deve alterar por causa de principado, que é um estado chefeado por um príncepe. Acontece que não pertencem ambas à mesma família de palavras. Principado é da família de principal, não de príncepe. Principal provem do latim principalis. Ora se por um lado «príncepe» é um título vago e pouco exacto, por outro, nem todos os principados são encabeçados por príncepes. Logo, príncepe e principado são dissociados em quase tudo.


Se o «Acordo» Ortográfico não serve para a escrita do português, porquê pô-lo em prática? Por causa do poder. Por um lado, a ortografia brasileira é só aplicada no Brasil mas a portuguesa é-o em Portugal, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncepe e Timor-Leste. A adopção de uma ortografia única em todos os países ditos lusófonos (e melhor ainda se brasileira, visto que, com o «Acordo, só 0,6% das suas palavras sofrem alterações) permitiria aos livreiros e editoras do Brasil alargar o seu mercado a um domínio hoje quase exclusivo de Portugal. Se a língua sai prejudicada, isso pouco importa, o lucro está acima de tudo. Por outro lado, e mesmo que não seja essa a intenção dos responsáveis brasileiros, este «Acordo» é um verdadeiro marco simbólico de domínio. Ao submeter-se a um tipo de tratado que descaradamente favorece o Brasil, Portugal, o antigo dominador e actualmente um país decadente, ficará sempre visto aos olhos dos outros como se tendo rebaixado à sua ex-colónia, agora uma potência em ascenção.


Insisto em repetir que NADA, MESMO NADA tenho contra o Brasil.


(CONTINUA e segue-se a última parte)



Que a caca esteja convosco!


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográfico) Parte IV

O NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO EXPLICADO DE MODO FÁCIL (3)
5ª - Base XVII - A parte respeitante ao hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver guarda outra bácora que ninguém percebe para que foi feita. Vejamos então o número 2: «Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc..» Esta medida não tem razão de ser porque cria uma incoerência. Como é sabido, o discurso procede-se em três vozes: activa, passiva e reflexiva. A voz reflexa ou reflexiva, que é a que interessa para o caso, emprega-se quando a acção recai sobre quem a pratica (ele cortou-se, eles pintaram-se, eu trato-me). O verbo haver, usado quase em exclusivo como verbo auxiliar, é, para esse efeito, muitas vezes conjugado na voz reflexiva. Deste modo, o de não tem aqui função de preposição, é sim equivalente ao me, ao te, ao se, ao nos e ao vos para conjugar os outros verbos na voz reflexiva. Portanto, se se escreve cortou-se, pintaram-se e trato-me, também se deve escrever hei-de, hás-de, há-de e hão-de.
6ª - Base XIX - O uso das minúsculas e das maiúsculas sempre foi discutido. Por isso, apenas foi sempre tido como dado garantido e inegável, como um dogma, que os nomes próprios e as frases tinham como primeira letra uma maiúscula e o resto era minúsculo. Sempre assim se ensinou na escola. O «Acordo Ortográfico» vem acabar com isso. Indica assim no seu número 1: «A letra minúscula inicial é usada: (...)
b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira, outubro, primavera.» Quanto aos dias da semana está certo, desde que não designem nomes próprios de dias em concreto, como Domingo Gordo, Sábado de Aleluia ou Sexta-Feira Santa. Os restantes não podem estar correctos e a Base XXXIX do diploma de 1945 previa esta situação e explicava porque é que não podia ser assim: isso iria criar cofusões com nomes comuns. Verão, por exemplo, seria confundido com a conjugação do verbo haver na terceira pessoa do plural do Futuro do Modo Indicativo: verão, e eles verão o quê? Já outono é um cereal e primavera uma planta. Em relação aos meses, o caso é mais caricato: Janeiro é o primeiro mês do ano, janeiro é o cio dos gatos; Fevereiro é osegundo mês, fevereiro é uma ave; Maio é o quinto mês, maio é um boneco usado numas festas populares em algumas partes do Algarve. Assim, 19 de janeiro não é uma data, são 19 gatos com o cio. Portanto, concui-se que tem de haver uma distinção gráfica para evitar confusões entre os nomes próprios dos períodos e nomes comuns de variadas coisas, nomeadamente mantendo a inicial maiúscula nos primeiros, como indica, aliás, a regra geral.
«c) Nos bibliónimos (após o primeiro elemento, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O Senhor do paço de Ninães; Menino de Engenho, Menino de engenho; Árvore e Tambor ou Árvore e tambor.» Nem é necessário ser especialista para ver que há aqui uma incongruência, basta seguir o bom-senso. Cada palavra constituinte do título faz parte do nome próprio da obra e como tal deve ser tratada. Portanto, da mesma maneira que o nome, por exemplo, do Marquês de Pombal se escreve Sebastião José de Carvalho e Melo e não Sebastião josé de carvalho e melo, também o célebre livro de Júlio Dinis (idem) é As Pupilas do Senhor Reitor e não As pupilas do senhor reitor. Senhores acordistas, haja coerência e respeito pelos nomes próprios!
«d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.» A Base XL de 1945 diz exactamente o contrário e tem razão lógica para tal. Quando estas palavras são empregues para designar algum indivíduo em sentido vago, devem sim ser escritas com inicial minúscula. Porém, se surgem em substituição de um nome próprio em concreto, devem ter inicial maiúscula. Exemplo: ali o Senhor Fulano quer uma caldeirada.
A alínea e está muito pobre e incompleta, parece um resumo feito à pressa da Base XLVI de 1945.
«f) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos, disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática), línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).» Diz a lógica e a regra geral que, nestes sentidos, tais palavras, que são nomes próprios, devem ter iniciais maiúsculas. Tal só não é necessário quando designem nomes comuns: filosofia de vida; é a matemática das coisas; falam-se muitas línguas no Mundo; eu gosto das literaturas modernas.
7ª - As facultatividades - Por todo o texto do «Acordo» proliferam as possibilidades de escrever um vasto leque de palavras da maneira que bem se entender, dentro das restrições impostas. Parece curioso um documento que pretende unificar a ortografia da língua portuguesa permitir uma tão grande variedade de grafias. Os seus defensores dirão que já na regulamentação de 1945 se admitiam facultatividades na escrita. É verdade mas essas tinham como base diferenças na oralidade, como as relativas aos ditongos oi e ou, de que resultavam palavras diferentes, ainda que sinónimos. Agora não, podem haver diferenças na oralidade, como as há de região para região dentro de qualquer língua, mas sobre a mesma palavra. Tendo em conta as distinções entre a oralidade portuguesa e brasileira, uma facultatividade só se deveria verificar a nível da acentuação em casos pontuais. Em rigor nem isso, se considerarmos que a língua é única, una e portuguesa. Ao invés, o «Acordo» não só não unifica a escrita como cria várias escritas possíveis. Onde antes existiam duas grafias, portuguesa e brasileira, passam a haver a portuguesa (que os sensatos saberão compreender e manter), a brasileira e uma série de variações dentro de um género abrasileirado.
(CONTINUA)
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográfico) Parte III

O NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO EXPLICADO DE MODO FÁCIL (2)

2ª - Base IX - Outra sucessão de incongruências, só para ser simpático, aparece na secção da acentuação gráfica das palavras paroxítonas, que são as acentuadas na penúltima sílaba. Diz no número 7: «Prescinde-se do acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico oral fechado em hiato com a terminação -em da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.» Ora ao retirar o acento circunflexo do primeiro e da sequência êem, como em crêem, ficamos com ee, como nas seguintes palavras: compreende, repreensão, surpreendem e veemente. Em conformidade com as novas regras, todas estas palavras compartilhariam a sequência ee. No entanto, se aquelas às quais se pretende retirar o acento circunflexo se lêem e, como tal, devem ser escritas êem, todas as outras lêem-se iem. Se são casos diferentes, porquê meter tudo no mesmo saco?
Bacorada seguinte, no número 9, que diz: «Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, e pelo(s), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc..» Vamos lá ver se nos entendemos. Não são funções primárias e essenciais dos acentos gráficos assinalar as vogais acentuadas, distinguindo assim na escrita palavras de igual grafia mas diferente acentuação, deste modo possibilitando uma mais correcta tradução da escrita para a oralidade e vice-versa? Suprimindo a acentuação, não deixará isso de acontecer? Não criará isso uma enorme confusão para quem lê? Tal medida só faria sentido numa língua em que não houvesse grande variedede e distinção entre vogais abertas, fechadas e acentuadas. Se em Portugal há essa variedade e distinção, no Brasil não.
3ª - Base XV - Sigamos para a base que trata do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares. Também aqui há asneiras. Diz a observação do número 1: «Certos compostos em relação aos quais se perdeu, em certa medida,a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc..» Quanto a girassol ou pontapé não há qualquer questão mas se o mandachuva levanta dúvidas (guarda-chuva, manda-chuva, meus amigos), paraquedas e paraquedista são, no mínimo, problemáticos. Em primeiro lugar, quem lê as palavras lê para e não pára, pois falta lá o acento. Como aquela sílaba () é antes da esdrúxula, a antepenúltima, pára tem de ficar destacado do resto para receber acento. Em segundo, para é o prefixo que designa algo em prol ou que é quase outra coisa, como um paramédico é alguém com um estatuto próximo do de um médico mas não é médico ou uma parafarmácia não é uma farmácia mas um é estabelecimento parecido. Logo, umas «paraquedas» devem ser umas quase quedas ou algo parecido a quedas. Quanto a um «paraquedista» não sei mas deve ser alguém doutrinário e defensor das «paraquedas». Em suma, um tiro no pé.
Vem escrito no número 6: «Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjectivas, pronominais, adverbiais, propositativas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas excepções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-prefeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:
Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar; (...)» Os autores do «Acordo» estiveram muito distraídos porque é costume e hábito entre nós escrever pelo menos fim-de-semana com hífenes.
4ª - Base XVI - Os pontapés na Gramática parecem alcançar o ilimitado na base do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação, nomeadamente no número 2, que cito: «Não se emprega, pois, o hífen:
a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microrradiografia.
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudo-prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adoptada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducação, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.»
Estas regras acarretam três problemas:
1 - são uma insignificância desnecessária, ou seja, trazem alterações ridículas e sem necessidade e propósito;
2 - o o da sequência co, quando não acentuado, é fechado se ligado a outra vogal que o suceda (conferir com coelho, Coimbra ou coordenar), o que o obriga a ficar destacado do resto da palavra, até porque em muitas palavras este prefixo fica antes da antepenúltima sílaba, pelo que não pode receber qualquer acento gráfico;
3 - o argumento que baseia as regras, o de que é uma prática adoptada e generalizada, é falso e basta olhar para qualquer documento técnico para constatar essa gigantesca e descarada mentira.
Mais uma vez, relembro que nada, NADA, NADICA DE NADA, tenho contra o Brasil.
(Continua)
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográfico) Parte II

O NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO EXPLICADO DE MODO FÁCIL (1)


O «Acordo» de 1990 fundamenta a ortografia em 21 bases (o diploma de 1945 fazia-o em 51, o que, só por si, já pode servir para ilustrar o grau de qualidade, inversamente proporcional ao da asneira). Uma boa parte do texto é uma fiel cópia do do «Acordo» de 1945. Das que não são, algumas são da categoria do «não aquece nem arrefece», que é o caso da Base I, que diz o mesmo que já antes se dizia salvo na parte em que se considera que o alfabeto português tem 26 em vez de 23 letras, ou seja, mantêm-se as circunstâncias do uso do k, do w e do y só que agora passam a ser consideradas parte do alfabeto português. Sinceramente, é uma picuinhice. Outras coisas há que são asneiras de bradar aos céus, as quais passo a enumerar e explicar da maneira mais simples possível. O texto do «Acordo» será aqui adaptado à ortografia moderna (a de 1945) para ser minimamente perceptível.


1ª - Base IV - O cavalo de batalha dos defensores do «Acordo», que dizem que só se deve escrever o que se diz, isto é, não se diz, não se escreve. É uma excelente ideia que já tinha sido aplicada em 1945. Estes indivíduos armados em entendidos consideraram que não e daqui resultou patacoada, senão vejamos. O texto diz:


«1 - O c com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com valor de sibilante), e ct e o p das sequências interiores pc (c com valor de sibilante), e pt, ora se conservam ora se eliminam. Assim:

a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural, adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto;

b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionarafetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção, adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo;

c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição, facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção;

d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o determinado nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendo-se, respectivamente, nc, nç e nt: assumpcionista e assuncionista, assumpção e assunção, assumptível e assuntível, peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.

2 - Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o b da sequência bd, em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus derivados; o g da sequência gd em amigdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdalóide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da sequência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t da sequência tm, em aritmética e aritmético.»


As línguas, nas suas escritas, são como as máquinas: as porcas e os parafusos podem não ser intervenientes directos para o funcionamento dos motores, ou seja, não fazem com que ele trabalhe ou não, como o fazem a água, o vento, os combustíveis, a corda ou seja o que for, mas experimente-se a tirarem-se-lhos e logo se verá o engenho a avariar e largar peças por todo o lado, deixando de funcionar. De igual modo, por exemplo, em francês escreve-se «cadeaux» e diz-se «cádô» ou em inglês «although» para quando é dito «aldou». Tal como as porcas e os parafusos estão nas máquinas por algum motivo, também aquelas letras ali estão na escrita e, em ambos os casos, pela mesma razão, que é que tudo funcione bem.


No que diz respeito à Base IV, a alínea a do número 1 está correctíssima, assim como o princípio que argumenta a alínea d. Já os exemplos desta segunda não. O erro surge quanto às duas últimas palavras. Toda a gente diz «sumptuoso» e «sumptuosidade», não faz sentido passar a escrever e, logo, a dizer «suntuoso» e «suntuosidade». Estas palavras só são ditas assim... no Brasil. De igual modo, todo o número 2 não tem qualquer lógica porque as letras em causa são sempre, em qualquer lado e circunstância, pronunciadas. A alínea c do número 1 é outra que não faz sentido, tal como inúmeras outras alíneas do «Acordo», visto que também aqui estas letras apontadas só não são pronunciadas no Brasil, o que é o argumento que sustenta o princípio das facultatividades, do qual se falará adiante. A alínea b é, de todas deste número e das partes do «Acordo», a mais discutida e discutível. Para compreender o porquê do seu erro, é necessário um recuo no tempo.


Os Romanos não usavam acentos. Aliás, os acentos são invenções relativamente recentes. Como não os tinham, usavam certas letras colocadas em determinados lugares de maneira a saber que, de determinada sequência de letras, uma delas seria acentuada graças à tónica que outra lhe conferia. Olhando o caso numa perspectiva meramente metafórica, para que todos possam compreender, era como se uma letra desse a sua força a outra para que esta se pudesse ouvir melhor e acabasse por ficar tão cansada e fraca que deixava de se conseguir fazer ouvir. Esta letra que se sacrificava não era uma letra ao acaso, tinha de ser uma em específico, por variadas razões próprias da língua. Ora o latim deu lugar ao português mas o hábito e a necessidade de explicar certos fenómenos que ocorriam na oralidade tornou imperativa a manutenção desta regra em alguns casos pontuais, como explica e demonstra o «Acordo» de 1945, senão vejamos.

Vamos proceder a um simplícimo exercício de comparação usando palavras dadas como exemplo na alínea b do número 1 da Base IV e outras escolhidas à sorte. Acção, accionar, fracção, Mação, cação e implicação. Que denotamos? Que o a que antecede a sequência é sempre aberto mas o que antecede o ç sozinho é sempre fechado. Que conclusão se tira daqui? Que o c colocado antes do ç abre o a que o antecede. Logo, retirando o c, o a fica fechado. Assim sendo, e acção, accionar e fracção não são as mesmas coisas que ação, acionar e fração. Sempre se podia pôr um acento no a mas o resultado seria desastroso pois a tónica dada ao a tenderia a tornar as outras vogais fechadas e criaria confusões. Áção, por exemplo, dir-se-ia de maneira igual a assam (terceira pessoa do plural do verbo assar no Presente do Modo Indicativo). Vamos a outros casos: direcção, objecção, infecção, secreção, colecção. Também aqui o e, quando fica antes de fica aberto e o que antecede só o ç fica fechado. Experimente-se a acentuar o e tendo só o a seguir e já se vê a asneira que sai. Deixe-se ficar sem o acento e ficaremos com o e fechado. O princípio é o mesmo que nos casos de acç. Consequentemente, e por uma questão de coerência, colectivo, director e objecto devem manter os seus c antes do t porque têm o e aberto. Alguns dirão que feto, por exemplo, tem o e aberto, tal como o e de afecto, e não é sucedido por nenhum c. é verdade mas é aqui que volta a entrar a coerência. Se colectivo é da família de colecção, director de direcção e objecto de objecção, também afecto é de afecção. Há ainda uma razão etimológica, que é a da palavra que está na origem de feto não ter qualquer consoante que hoje tivesse de ser empregue como muda. Deste exercício se conclui que as consoantes ditas mudas são também essenciais para o agrupamento e distinção de famílias de palavras. Sem elas haveria confusão e, por exemplo, «afetar» não pode ser outra coisa senão atribuir a algo características de feto.

Os mesmos princípios aplicam-se a acto e exacto, aliás palavras da mesma família mas com uma diferença entre elas, que é a de, em rigor, o c de acto e suas derivadas não ser mudo, como diz o enunciado na alínea b. Mas agora, para efeitos do debate académico, vamos abrasileirar-nos e fazer de conta que é mesmo mudo. Alguém dirá: «mas o primeiro a de actividade é fechado e há um c mudo a seguir.» É verdade, é uma excepção à regra, como as há em tudo. No entanto, mesmo que o c fosse mudo, teria de ser escrito para que se soubesse que pertencia à família de acto, activo e activação.

O caso de adopção e adoptar é idêntico. Comparado com adoçar e dotar, vemos que o o é aberto antes de ou de pt mas, sem o p, é fechado. Repare-se que aqui o p é considerado mudo mas, em palavras muito idênticas, como opção e optar, não é. O emprego do p em adoptar e adopção segue as razões já apontadas. E porquê o p e não outra letra? Porque é esta a empregue na sua raiz etimológica, em latim. Sem ele, «adoção» seria um eventual sinónimo de «adoçamento» e «adotar» qualquer coisa relativa a dotar ou atribuir dote.

O p de baptizar existe pelas mesmas razões (abre o a antes do p, o que não acontece em batedor ou bateria, cujo a antes do t é fechado) e garante-nos que um baptista, seguidor e crente em São João Baptista, não tem nada a ver com um batista, defensor de que é a bater que se resolvem as coisas. Baptizar não é da família de bater.

Óptimo revela-nos o problema oposto ao de acto e actividade: o o inicial é acentuado e há um p considerado mudo logo a seguir. Para quê? Não seria mais lógico escrever «ótimo», como prevê o «Acordo» de 1990? Não porque assim incorria-se em incoerência. Não nos podemos esquecer que se o p de óptimo é dito mudo, já o p de algumas palavras da mesma família, como optimizar ou optimização, costuma ser pronunciado e, em rigor, deve sê-lo.

O caso de Egipto é o mais bizarro dos exemplos dados. Ninguém sabe sequer o que é que ele lá faz. Para quê retirar-lhe o p? Não conheço uma única pessoa que diga «Egito». O p aqui não é mudo! E, porventura, serão os seus naturais os «Egícios» e os seus estudiosos os «egitólogos»? Não, são os «Egipcios» e os «egiptólogos». Logo, o país é o Egipto e não o «Egito». Para mais, a subtracção do p retira tónica ao i e a palavra deixa de ter sílaba tónica.

Antes de dizermos já que as alterações apresentadas pelo diploma de 1990 (ou deverei dizer 2009) não fazem qualquer sentido, façamos o oposto do que se tem feito até agora, que é tentar encontrar uma lógica para tudo. Na realidade, estas novas regras ortográficas têm aplicação prática numa língua em que não haja grande distinção entre vogais abertas e fachadas. Ora em Portugal a distinção é enorme, muito complexa e variada. Já no Brasil nem por isso.

Mais uma vez afirmo que NÃO TENHO ABSOLUTAMENTE NADA CONTRA O BRASIL!

(CONTINUA)




Que a caca esteja convosco!

P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

E mais uma vez... asneira!


Ora vamos lá ver se percebo:


Cavaco Silva, eleito para Primeiro-Ministro de um governo minoritário em 1985. Dois anos depois foi derrubado por uma moção de censura. Motivo? Entre outros, o Governo era acusado de manipulação da comunicação social. Reeleito com maioria absoluta, continuou a estoirar dinheiro público e a atropelar os direitos. Reeleito em 1991, continuou o seu ruinoso trabalho e a fazer tratados péssimos para o país. Se o pessoal se manifestava, levava porrada. Se era contra, estava «disponível». Eleito em 2006 para o cargo de Presidente da República. Desde que tomou posse, o Governo de José Sócrates nunca mais foi o mesmo. Reeleito agora.


Que parte será que as pessoas não compreenderam? Quando eu era pequeno, diziam-nos que os tolinhos levavam um puxão de orelhas e os delinquentes iam para a cadeia. Agora parece que sou eu é que tenho as orelhas quentes!


Às vezes fico a pensar que, se calhar, o Marquês de Pombal até tinha alguma razão quando dizia que os Portugueses só fazem algo se forem tocados a chicote. Por amor de Deus! Estou muito decepcionado com a vossa falta de memória!


Que a caca esteja convosco...


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!! O manifesto continua já a seguir.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográfico) Parte I


O CONTEXTO DA ASNEIRA

Vamos agora a uma história sobre até que ponto há gente que pensa que sabe tanto e é tão esperta que, quando estes fulanos dão por eles, em vez de sabichões, já são sabões.

Era uma vez um lindo e pacífico país chamado Portugal onde os seus naturais, apesar de muito trabalhadores, tinham um pequeno problema, que era o de quase ninguém saber ler nem escrever. Mesmo os seus reis, que se alguns foram ilustres letrados, outros não conheciam uma letra do tamanho dum cavalo. É que aprender a ler e a escrever demora tempo e exige prática e treino regular. Ora quase ninguém tinha possibilidade para isso, havia que trabalhar para ganhar o sustento e as letras não enchiam as barrigas. Como tal, ninguém se importava com a maneira como se escrevia, nem mesmo os que o sabiam fazer, e cada um escrevia da maneira que considerava ser a mais correcta. Existiam, portanto, inúmeras ortografias.

Com o passar dos séculos, foram-se formando duas tendências. Uma era a etimológica, que defendia que, uma vez que a língua portuguesa era descendente de outras línguas mais antigas, em especial o latim, devia conservar na escrita a memória destas. Outra era a fonética, que entendia que isto já não era latim nem grego nem fosse o que fosse e que, portanto, as palavras escritas não deviam estar carregadas de letras atávicas mas sim descrever aquilo que, de facto, se dizia. As divergências duraram durante muito tempo mas a generalidade do povo não se importava porque era analfabeta. Só em 1945 é que membros da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira das Letras se reuniram e conseguiram chegar a um consenso. Visto que nem a ortografia etimológica nem a ortografia fonética traduziam bem na escrita a língua portuguesa, fez-se uma combinação de ambas e assim foi criada a chamada ortografia moderna, que finalmente trouxe a tão desejada ordem onde durante cerca de 800 anos só houve caos. Agora a língua já tinha uma forma fixa e todos podiam aprender e escrever da mesma maneira.

O Governo Português gostou tanto da ideia que decidiu pôr o entendimento em prática. Porém, o Congresso Brasileiro não foi da mesma opinião. É que, desde que aquela antiga colónia portuguesa se tinha tornado independente, em 1822, a maneira de falar no Brasil já tinha mudado muito e era agora bem diferente da falada em Portugal. Por isso, decidiram aplicar regras distintas das acordadas e o que as academias decidiram apenas foi posto em prática em Portugal, isto é, a Metrópole e as suas dependências.

Foram várias as tentativas de chegar a acordo com os responsáveis do Brasil, em vão. Entretanto, a generalidade dos Portugueses tornou-se alfabetizada , ainda que não fosse propriamente letrada, e a escrita tornou-se essencial no dia-a-dia e até um vital suporte para a língua.

Tudo estava bem quando, em 1990, foi feito um estudo com uma proposta de ortografia unificadora para os países ditos lusófonos. Era, à semelhança do tratado de 1945, o «Acordo Ortográfico». No entanto, apresentava soluções tão absurdas que foi posto na gaveta e esquecido. Por azar, quando Portugal estava em declínio, o Brasil entravanuma fase de prosperidade e assumia-se como um país rico, influente e uma potência emergente. Os governantes portugueses podiam ter procurado restaurar o esplendor de Portugal mas optaram sempre pela via mais fácil, que era a colagem aos grandes e poderosos países, como os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a Alemanha e outros. Ora estando o Brasil a destacar-se, chegou-se ao ponto de, em certas ocasiões, como nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, por exemplo, quando se pretendia traduzir algo para português, esta era feita para o idioma do Brasil, em muito diferente quer na oralidade quer na escrita. Com o acentuar da velha crise, o Governo Português podia tentar incentivar o investimento e proteger a riqueza do país mas como isso implicava chatear a União Europeia, a quem tinha mais obediência e devoção que ao próprio país, enveredou por aliar-se ao antigo «irmão» mais novo, o Brasil. É nestas circunstâncias que, curiosamente, reaparece o «Acordo Ortográfico, do qual já ninguém se lembrava e poucos alguma vez deram por ter existido. Coincidência, não é?

Ora vamos lá ver. Português é a língua de Portugal, certo? E pronto. Uns dirão: mas Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncepe, Brasil e Timor-Leste também falam! Bem, quase. É que em Timor-Leste fala-se tetum e bahaza, poucos falam português e muitos menos de forma correcta. No Brasil, as diferenças são imensas, quer na forma de pronunciar as palavras quer na conjugação dos verbos, no quase desuso de preposições e vogais fechadas, na constante substituição da acentuação aguda pela circunflexa, no emprego dum léxico muito distinto do corrente em Portugal e na atribuição de significados muito próprios e diferentes dos atribuídos nas mesmas ou simileres palavras e expressões proferidas em qualquer outro país dito lusófono. No geral, o idioma falado em grande parte do Brasil pouco mantém de gramático e fonético com a língua portuguesa e tende, invariavelmente e mais cedo ou mais tarde, a derivar numa nova língua. Quanto aos países africanos, em particular Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, possuem uma diversidade de línguas nativas e dialectos croiulos, pelo que é reduzido o número de pessoas que fala português em exclusivo. Nestes casos, o português é pouco mais que uma língua franca, como o latim o foi na Europa durante a Idade Média e a Idade Moderna. Daqui se deduz que a questão da ortografia sempre foi um problema que praticamente se resume a Portugal e Brasil. Mesmo assim, não é invulgar reportagens de certas partes do Brasil terem de ser legendadas para que se perceba o que dizem os naturais. Agora imagine-se nos outros países referidos em que, sempre que há uma visita oficial, são necessários tradutores e intérpretes.

Alguns políticos, analistas, gramáticos e linguístas consideram que a língua portuguesa nunca será tida em grande conta enquanto tiver duas ortografias oficiais, uma de Portugal e outra do Brasil. Pois seria mais lógico achá-lo pelo facto de não haver uma ortografia fixa e duradoura. Em 100 anos, o Estado Português mudou a sua ortografia oficial três vezes (adoptou uma em 1915, mudou em 1945 e novamente em 2009 para pôr em prática em 2015) e fez uma série de adaptações, sempre com vista a aproximar-se da ortografia do Brasil. No entanto, se umas vezes a Academia Brasileira das Letras aceitou os acordos, noutras ocasiões voltou atrás e noutras manteve-se mas as entidades governantes não lho deram seguimento. Ao fim de tantas peripécias, não seria melhor manter a actual ortografia definitivamente e enveredar sim por um verdadeiro restauro da língua?

Claro que esta é uma visão muito simplificada da realidade mas, para o efeito, serve para ilustrá-la. Quem quiser saber mais sobre a sucessão dos acontecimentos, é só consultar a cronologia que consta aqui:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa

Note-se que EU NADA TENHO CONTRA O BRASIL, NADA, NADA NADA! Agora vamos ao mais importante, que é o «Acordo Ortográfico» e porque é que é algo isento de coerência e, logo, de razão.

Que a caca esteja convosco!

P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Crítica ao livro «12 Erros Que Mudaram Portugal»


Tive oportunidade de ler o livro «12 Erros Que Mudaram Portugal» e só de olhar para o título, fiquei a pensar «só 12?!» De facto deve ter sido bem difícil escolher uma dúzia, há imensas grosas por onde escolher! (Para quem não sabe, uma grosa são 12 dúzias.) Passando o espanto do título, devo dizer que gostei muito do livro, que considero ser de boa qualidade e cativar o leitor com a explicação em moldes simples e com muito humor, essencial para agarrar o leitor mais avesso à historiografia. Porém, sou obrigado a apontar-lhe alguns lapsos, aliás compreensíveis da parte de quem, como os autores admitem serem os seus casos, não é entendido em História. Vamos a eles.


Em primeiro lugar, um clássico, logo no primeiro capítulo. É certo que se diz à boca cheia que o Dom Afonso Henriques deu uma tareia na mãe e está documentado que a prendeu no Castelo do Lanhoso depois da Batalha de São Mamede mas esta dita tareia é em sentido figurado e é apenas válida em contexto de conversa de rua. Não existe qualquer documento coevo que refira que o nosso então futuro primeiro rei tenha batido na mãe e nunca tal coisa se ensinou em escola alguma. Enfim, um mito sem fundamento. Ele também não foi aclamado rei nessa circunstância mas mais tarde, em 1139, depois da Batalha de Ourique. Dizer que ele não criou nada senão uma sucorsal do «Império Hispânico» e que nem desejava a independência de Portugal é muito sagaz e não está de acordo com o que se conhece dos factos ocorridos na época. De resto, está um bom artigo.


Capítulo IV. Porto Santo não foi descoberto em 1425 mas sim 1418. Os Descobrimentos não falharam por falta de estratégia e muito menos por causa de um amuo do Dom Manuel I com o Pedro Álvares Cabral, falharam sim pela falta de fiscalização e consequente corrupção e laxismo administrativo e pela pressão, corso e pirataria de muitos adversários (em especial Mouros, Turcos, Castelhanos, Holandeses, Franceses e dos Ingleses, para mais nossos aliados), isto já para não falar na vastidão e descontinuidade do Império, na escassês de homens e recursos e na nefasta acção dos jesuítas e, principalmente, da Inquisição, entre outros. Muito foi ele conseguido para o que era possível e que a perda da independência veio ajudar a estragar.


Capítulo V. Está certo que os Judeus eram grandes conhecedores de negócios e coisas de ciência mas daí a fazer da sua expulsão a causa da desgraça e ruina completa de Portugal ainda vai um bom bocado. E onde está o facto de eles se terem então tornado grandes proprietários e burgueses poderosos e viverem às custas de parte da população, que se sentia explorada, o que motivou a célebre Matança dos Cristãos-Novos? Será caso que não existissem e viessem a existir grandes intelectuais, letrados e mestres de ofícios portugueses tanto ou mais capazes que os judeus? Pelo que vem escrito, dá-se a entender que nós somos uns incapazes e incompetentes natos, o que já se verificou não ser verdade nem de perto nem de longe. Amigos autores, estais a sobrestimar os Judeus, de quem eu não tenho nem contra nem a favor mas como semelhantes a nós, como de facto todos nós, humanos, somos.


Capítulo VII. Não será um bocado exagerado atribuir estes males de saúde aos Portugueses e Espanhóis? A introdução destes produtos na Europa pode ter sido feita por nós, sim, mas não fomos nós que os começámos a produzir fritos para comer ou, no caso do tabaco, para fumar, aos magotes. E já agora, a batata não tem nada de mal, o que se lhe adiciona é que pode fazer mal.


Capítulo X. Passo a citar. «Para a história, fica a marca de uma república que adoptou uma canção popularucha e sentimentalista para hino, sem cuidados sobre a letra nem música, uma adaptação de hinos estrangeiros com uma pitada de faduncho pobre e uma letra que foi alterada conforme a circunstância. O resultado foi um hino de que nenhum português gosta muito, melódica ou poeticamente, mas que emociona como qualquer símbolo.» Está tudo louco? De tempos a tempos aparece alguém a dizer que o hino é uma cópia d'«A Marselhesa». Não sei de onde vão buscar essa ideia. Tirando o nome («A Portuguesa») e o tal verso de «Às armas, às armas!», não há nada mais de parecença. O mesmo se passa quanto à comparação com o «Hino da Maria da Fonte». Alguém experimente ouvir estes três hinos de seguida e logo notará que semelhanças há entre eles. Eu poupo-vos esse trabalho: é nenhuma, até o «Hino da Restauração» é mais parecido! Nem consigo perceber onde conseguiram meter uma citação de fado nisto. Se a letra e a melodia não são cuidadas, acho curioso que o hino português, e não somos só nós que o dizemos, seja considerado um dos mais belos e bem conseguidos do Mundo. Essa de nenhum português gostar lá muito do hino é tão verdade quanto lombrigas serem descendentes dos pardais. Se mais ninguém gosta, eu digo-vos: eu gosto muito. Cuidado com o que se diz. Ainda assim, gostei muito daquela da Nelly Furtado.


Animado, conciso, acutilante e claro. Muito bem! Mas cuidado com as falhas... A História é o nosso passado e presente mas também o nosso futuro.


Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!