domingo, 16 de janeiro de 2011

O Desacordo Ortopédico (veemente protesto contra o «Acordo» Ortográfico) Parte I


O CONTEXTO DA ASNEIRA

Vamos agora a uma história sobre até que ponto há gente que pensa que sabe tanto e é tão esperta que, quando estes fulanos dão por eles, em vez de sabichões, já são sabões.

Era uma vez um lindo e pacífico país chamado Portugal onde os seus naturais, apesar de muito trabalhadores, tinham um pequeno problema, que era o de quase ninguém saber ler nem escrever. Mesmo os seus reis, que se alguns foram ilustres letrados, outros não conheciam uma letra do tamanho dum cavalo. É que aprender a ler e a escrever demora tempo e exige prática e treino regular. Ora quase ninguém tinha possibilidade para isso, havia que trabalhar para ganhar o sustento e as letras não enchiam as barrigas. Como tal, ninguém se importava com a maneira como se escrevia, nem mesmo os que o sabiam fazer, e cada um escrevia da maneira que considerava ser a mais correcta. Existiam, portanto, inúmeras ortografias.

Com o passar dos séculos, foram-se formando duas tendências. Uma era a etimológica, que defendia que, uma vez que a língua portuguesa era descendente de outras línguas mais antigas, em especial o latim, devia conservar na escrita a memória destas. Outra era a fonética, que entendia que isto já não era latim nem grego nem fosse o que fosse e que, portanto, as palavras escritas não deviam estar carregadas de letras atávicas mas sim descrever aquilo que, de facto, se dizia. As divergências duraram durante muito tempo mas a generalidade do povo não se importava porque era analfabeta. Só em 1945 é que membros da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira das Letras se reuniram e conseguiram chegar a um consenso. Visto que nem a ortografia etimológica nem a ortografia fonética traduziam bem na escrita a língua portuguesa, fez-se uma combinação de ambas e assim foi criada a chamada ortografia moderna, que finalmente trouxe a tão desejada ordem onde durante cerca de 800 anos só houve caos. Agora a língua já tinha uma forma fixa e todos podiam aprender e escrever da mesma maneira.

O Governo Português gostou tanto da ideia que decidiu pôr o entendimento em prática. Porém, o Congresso Brasileiro não foi da mesma opinião. É que, desde que aquela antiga colónia portuguesa se tinha tornado independente, em 1822, a maneira de falar no Brasil já tinha mudado muito e era agora bem diferente da falada em Portugal. Por isso, decidiram aplicar regras distintas das acordadas e o que as academias decidiram apenas foi posto em prática em Portugal, isto é, a Metrópole e as suas dependências.

Foram várias as tentativas de chegar a acordo com os responsáveis do Brasil, em vão. Entretanto, a generalidade dos Portugueses tornou-se alfabetizada , ainda que não fosse propriamente letrada, e a escrita tornou-se essencial no dia-a-dia e até um vital suporte para a língua.

Tudo estava bem quando, em 1990, foi feito um estudo com uma proposta de ortografia unificadora para os países ditos lusófonos. Era, à semelhança do tratado de 1945, o «Acordo Ortográfico». No entanto, apresentava soluções tão absurdas que foi posto na gaveta e esquecido. Por azar, quando Portugal estava em declínio, o Brasil entravanuma fase de prosperidade e assumia-se como um país rico, influente e uma potência emergente. Os governantes portugueses podiam ter procurado restaurar o esplendor de Portugal mas optaram sempre pela via mais fácil, que era a colagem aos grandes e poderosos países, como os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a Alemanha e outros. Ora estando o Brasil a destacar-se, chegou-se ao ponto de, em certas ocasiões, como nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, por exemplo, quando se pretendia traduzir algo para português, esta era feita para o idioma do Brasil, em muito diferente quer na oralidade quer na escrita. Com o acentuar da velha crise, o Governo Português podia tentar incentivar o investimento e proteger a riqueza do país mas como isso implicava chatear a União Europeia, a quem tinha mais obediência e devoção que ao próprio país, enveredou por aliar-se ao antigo «irmão» mais novo, o Brasil. É nestas circunstâncias que, curiosamente, reaparece o «Acordo Ortográfico, do qual já ninguém se lembrava e poucos alguma vez deram por ter existido. Coincidência, não é?

Ora vamos lá ver. Português é a língua de Portugal, certo? E pronto. Uns dirão: mas Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncepe, Brasil e Timor-Leste também falam! Bem, quase. É que em Timor-Leste fala-se tetum e bahaza, poucos falam português e muitos menos de forma correcta. No Brasil, as diferenças são imensas, quer na forma de pronunciar as palavras quer na conjugação dos verbos, no quase desuso de preposições e vogais fechadas, na constante substituição da acentuação aguda pela circunflexa, no emprego dum léxico muito distinto do corrente em Portugal e na atribuição de significados muito próprios e diferentes dos atribuídos nas mesmas ou simileres palavras e expressões proferidas em qualquer outro país dito lusófono. No geral, o idioma falado em grande parte do Brasil pouco mantém de gramático e fonético com a língua portuguesa e tende, invariavelmente e mais cedo ou mais tarde, a derivar numa nova língua. Quanto aos países africanos, em particular Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, possuem uma diversidade de línguas nativas e dialectos croiulos, pelo que é reduzido o número de pessoas que fala português em exclusivo. Nestes casos, o português é pouco mais que uma língua franca, como o latim o foi na Europa durante a Idade Média e a Idade Moderna. Daqui se deduz que a questão da ortografia sempre foi um problema que praticamente se resume a Portugal e Brasil. Mesmo assim, não é invulgar reportagens de certas partes do Brasil terem de ser legendadas para que se perceba o que dizem os naturais. Agora imagine-se nos outros países referidos em que, sempre que há uma visita oficial, são necessários tradutores e intérpretes.

Alguns políticos, analistas, gramáticos e linguístas consideram que a língua portuguesa nunca será tida em grande conta enquanto tiver duas ortografias oficiais, uma de Portugal e outra do Brasil. Pois seria mais lógico achá-lo pelo facto de não haver uma ortografia fixa e duradoura. Em 100 anos, o Estado Português mudou a sua ortografia oficial três vezes (adoptou uma em 1915, mudou em 1945 e novamente em 2009 para pôr em prática em 2015) e fez uma série de adaptações, sempre com vista a aproximar-se da ortografia do Brasil. No entanto, se umas vezes a Academia Brasileira das Letras aceitou os acordos, noutras ocasiões voltou atrás e noutras manteve-se mas as entidades governantes não lho deram seguimento. Ao fim de tantas peripécias, não seria melhor manter a actual ortografia definitivamente e enveredar sim por um verdadeiro restauro da língua?

Claro que esta é uma visão muito simplificada da realidade mas, para o efeito, serve para ilustrá-la. Quem quiser saber mais sobre a sucessão dos acontecimentos, é só consultar a cronologia que consta aqui:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa

Note-se que EU NADA TENHO CONTRA O BRASIL, NADA, NADA NADA! Agora vamos ao mais importante, que é o «Acordo Ortográfico» e porque é que é algo isento de coerência e, logo, de razão.

Que a caca esteja convosco!

P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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