quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Crítica ao livro «12 Erros Que Mudaram Portugal»


Tive oportunidade de ler o livro «12 Erros Que Mudaram Portugal» e só de olhar para o título, fiquei a pensar «só 12?!» De facto deve ter sido bem difícil escolher uma dúzia, há imensas grosas por onde escolher! (Para quem não sabe, uma grosa são 12 dúzias.) Passando o espanto do título, devo dizer que gostei muito do livro, que considero ser de boa qualidade e cativar o leitor com a explicação em moldes simples e com muito humor, essencial para agarrar o leitor mais avesso à historiografia. Porém, sou obrigado a apontar-lhe alguns lapsos, aliás compreensíveis da parte de quem, como os autores admitem serem os seus casos, não é entendido em História. Vamos a eles.


Em primeiro lugar, um clássico, logo no primeiro capítulo. É certo que se diz à boca cheia que o Dom Afonso Henriques deu uma tareia na mãe e está documentado que a prendeu no Castelo do Lanhoso depois da Batalha de São Mamede mas esta dita tareia é em sentido figurado e é apenas válida em contexto de conversa de rua. Não existe qualquer documento coevo que refira que o nosso então futuro primeiro rei tenha batido na mãe e nunca tal coisa se ensinou em escola alguma. Enfim, um mito sem fundamento. Ele também não foi aclamado rei nessa circunstância mas mais tarde, em 1139, depois da Batalha de Ourique. Dizer que ele não criou nada senão uma sucorsal do «Império Hispânico» e que nem desejava a independência de Portugal é muito sagaz e não está de acordo com o que se conhece dos factos ocorridos na época. De resto, está um bom artigo.


Capítulo IV. Porto Santo não foi descoberto em 1425 mas sim 1418. Os Descobrimentos não falharam por falta de estratégia e muito menos por causa de um amuo do Dom Manuel I com o Pedro Álvares Cabral, falharam sim pela falta de fiscalização e consequente corrupção e laxismo administrativo e pela pressão, corso e pirataria de muitos adversários (em especial Mouros, Turcos, Castelhanos, Holandeses, Franceses e dos Ingleses, para mais nossos aliados), isto já para não falar na vastidão e descontinuidade do Império, na escassês de homens e recursos e na nefasta acção dos jesuítas e, principalmente, da Inquisição, entre outros. Muito foi ele conseguido para o que era possível e que a perda da independência veio ajudar a estragar.


Capítulo V. Está certo que os Judeus eram grandes conhecedores de negócios e coisas de ciência mas daí a fazer da sua expulsão a causa da desgraça e ruina completa de Portugal ainda vai um bom bocado. E onde está o facto de eles se terem então tornado grandes proprietários e burgueses poderosos e viverem às custas de parte da população, que se sentia explorada, o que motivou a célebre Matança dos Cristãos-Novos? Será caso que não existissem e viessem a existir grandes intelectuais, letrados e mestres de ofícios portugueses tanto ou mais capazes que os judeus? Pelo que vem escrito, dá-se a entender que nós somos uns incapazes e incompetentes natos, o que já se verificou não ser verdade nem de perto nem de longe. Amigos autores, estais a sobrestimar os Judeus, de quem eu não tenho nem contra nem a favor mas como semelhantes a nós, como de facto todos nós, humanos, somos.


Capítulo VII. Não será um bocado exagerado atribuir estes males de saúde aos Portugueses e Espanhóis? A introdução destes produtos na Europa pode ter sido feita por nós, sim, mas não fomos nós que os começámos a produzir fritos para comer ou, no caso do tabaco, para fumar, aos magotes. E já agora, a batata não tem nada de mal, o que se lhe adiciona é que pode fazer mal.


Capítulo X. Passo a citar. «Para a história, fica a marca de uma república que adoptou uma canção popularucha e sentimentalista para hino, sem cuidados sobre a letra nem música, uma adaptação de hinos estrangeiros com uma pitada de faduncho pobre e uma letra que foi alterada conforme a circunstância. O resultado foi um hino de que nenhum português gosta muito, melódica ou poeticamente, mas que emociona como qualquer símbolo.» Está tudo louco? De tempos a tempos aparece alguém a dizer que o hino é uma cópia d'«A Marselhesa». Não sei de onde vão buscar essa ideia. Tirando o nome («A Portuguesa») e o tal verso de «Às armas, às armas!», não há nada mais de parecença. O mesmo se passa quanto à comparação com o «Hino da Maria da Fonte». Alguém experimente ouvir estes três hinos de seguida e logo notará que semelhanças há entre eles. Eu poupo-vos esse trabalho: é nenhuma, até o «Hino da Restauração» é mais parecido! Nem consigo perceber onde conseguiram meter uma citação de fado nisto. Se a letra e a melodia não são cuidadas, acho curioso que o hino português, e não somos só nós que o dizemos, seja considerado um dos mais belos e bem conseguidos do Mundo. Essa de nenhum português gostar lá muito do hino é tão verdade quanto lombrigas serem descendentes dos pardais. Se mais ninguém gosta, eu digo-vos: eu gosto muito. Cuidado com o que se diz. Ainda assim, gostei muito daquela da Nelly Furtado.


Animado, conciso, acutilante e claro. Muito bem! Mas cuidado com as falhas... A História é o nosso passado e presente mas também o nosso futuro.


Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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