sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Tarantinolândia: como deveria ter acabado «Belmonte» (Versão Taralhouca)

Havia um antigo professor meu que dizia que nenhum filme, telenovela ou série era inteiramente original, que eram meras reedições ou reelaborações das antigas tragédias gregas. Pois se vermos bem cada produção actual, depressa chegamos à conclusão que é muito provável que seja verdade. É que, com frequência, vemo-nos mesmo gregos com os argumentos.

Nós sabemos que existe uma gritante falta de originalidade hoje em dia. Basta reparar nas milhentas versões modernas de músicas antigas, novas produções cinematográficas de fitas de outrora e adaptações televisivas de novas «Escravas Isauras» , «Jardins Proibidos» e outras, muitas das vezes mais pobres ou exageradas que as originais. Mas mais grave que a repetição de fórmulas do passado é a repetição de fórmulas absurdas e falhadas. Que o digam os telespectadores da T.V.I..

Eu não sou grande adepto de telenovelas mas às vezes calha de eu ficar a passar algum tempo a ver um pouco de um episódio qualquer se não estiver a dar nada mais de interessante. Pois na passada noite de dia 5, entretive-me a ver o último episódio de «Belmonte», o qual, confesso me desagradou. Não fui o único, acrescento. Para quem não viu, eis o que aconteceu.

Três irmãos iam casar-se com as suas respectivas. Um quarto irmão chamado Carlos, procurado pelas autoridades, apareceu lá para se vingar e fez refém a própria mulher, que estava grávida e que ele acreditava ser de um dos seus irmãos. Entretanto, apareceu um quinto irmão, o João, e o Carlos, de Mauser em punho, fez também dele refém. O pai biológico do Carlos chegou ao local e, pois claro, foi feito igualmente refém. Apareceu uma outra irmã, a Paula, e, já que temos a mão na massa (ou como canta o Álvaro Fabião, «Uma lasca de presunto/ Já que falas no assunto»), lá foi encostada também ao canto. Aquilo é que era um sortido de sequestrados. A conversa azedou e o Carlos quis começar por matar a mulher dele. Só que, quando o bandido disparou, o João meteu-se à frente da cunhada e levou um balázio na barriga em vez dela. O que o Carlos não sabia era que a sua delicada esposa trazia um pistolão na carteira. Portanto, assim que o outro tombou e lhe saiu da frente, ela fez questão de despejar o carregador no maridinho. Com tamanho alarido, os noivos acorrem ao local e dão de caras com o João inanimado/quinado e a esguichar sangue e com o Carlos feito passador e de olhos esbugalhados. Está bem, talvez o João não estivesse a esguichar sangue mas largava-o à fartazana. E o olhar do Carlos? Hilariante quanto baste! Apesar disso, degenerou tudo numa berratina épica. De repente, o João acordou. Estava num hospital, só que psiquiátrico. «Que Diabo...», pensamos nós. Sim, afinal ele era paciente num manicómio e inspirou-se nos outros maluquinhos e nos médicos e enfermeiros para escrever a história que muitos viram ao longo de quase 200 episódios. Como a história acabou mal, ele alterou-lhe o final. Pôs-se a ele a cavalgar no Pantanal com a sua amada, a Paula, falsa meia-irmã («Zarolhos de Água» aldrabados?), vivendo felizes para sempre. E é enquanto vemos os créditos finais pela última vez que ficamos todos a pensar: «mas que raio de término mais fatela vem a ser este?»

É isso, esta modalidade do fazer de conta que tudo o que vimos nunca aconteceu nem sempre resulta. Aqui foi mesmo desastrosa, em particular por causa da acção ter ficado inacabada e por causa daquele súbito final alternativo em tom de porno-sugestão. O pior é que já há tempos, numa qualquer das incontáveis telenovelas da T.V.I. sobre uns pescadores setubalenses, os argumentistas tinham recorrido à mesma solução. No momento em que a personagem interpretada por Paula Lobo Antunes era, digamos, fuzilada, também depois de ter sido raptada, acordava e via-se, espantemo-nos, numa cama de hospital, onde estava em coma há muito tempo, imaginando todo o enredo da história. Já aí esta solução mereceu duras críticas e, mesmo assim, parece que decidiram recorrer a ela também para esta vez. É curioso que há muitos anos usaram a mesma receita numa série de desenhos animados, o «Raio Azul», com um miúdo, um autocarro e um cavalo azul. Dessa vez, se bem me lembro, resultou na perfeição. O miúdo acordava e reparava que tinha sido tudo um sonho que adveio da leitura dum livro que lhe ofereceram. Lá calhou!

Perante este desastre novelesco, ficamos a pensar que «Belmonte» merecia um final melhor. Como poderia ele ser? Bem, para isso, nada melhor que recorrer à boa velha técnica do «como é que Quentin Tarantino o faria?» Nada mais fácil. Até podíamos fazer de conta que este era o «Sacanas Sem Lei» e deixar Uma Thurman, Samuel L. Jackson e John Travolta no descanso. Sim, ele foi capaz de fazer isso. Ora bem, o final do episódio tem tudo de necessário para resultar, tem conversa da treta, tiros, mortos, porreiro. Ignoremos as cenas do manicómio e do Pantanal, que só atrapalham. Estão os quatro reféns do mano mauzão. O Carlos aborrece-se da conversa, até porque estava ali era para fazer uma matança e ainda provar o bolo de noiva, que mais um pouco e tinha a cobertura azeda, e decidiu pôr um termo ao paleio.Ergueu a sua Mauser e disparou contra a mulher mas o mano João pôs-se à frente e levou com o balázio na barriga. Ao cair, deixou a mulher a descoberto, de canhangulo na mão, e toca de arrear chumbada no esposo, que se deixou ficar estático com a surpresa e com a súbita entrada em choque do sistema nervoso. Cambaleou para o lado e fraquejou das pernas. Ainda ia para tentar dar mais um tiro mas eis que se reergue o João, como se nenhuma bala o tivesse atingido, agarra na pistola da cunhada, petrificada com o que acabara de fazer e jamais julgara ser capaz, e diz ao irmão:
- Carlos, sabes dizer-me, por exemplo, como é que chamam a um Big Mac em França? Royale Com Queijo.
Fantástico! Ele previra a aparição sanguinária e prevenira-se com um colete à prova de bala! Afincou um derradeiro tiro mesmo no meio da testa do Carlos e este caiu no chão, morto a 100% e a esguichar sangue aos esgarrões da cabeça. O resto do pessoal entrou de rompante na casa, alertado pelo barulho, e dão de caras com aquele cenário. Então o padre olha para aquilo e diz:
- Livra, valha-me Deus! Até me deu um aperto. Vou só ali à casa de banho.
Sim, é que todas as histórias do Tarantino têm de ter casas de banho. Assim acabou a telenovela, com todos satisfeitinhos da vida, menos o morto, e viveram felizes para sempre e a comer montes de bolos que sobraram do copo d'água.

É ou não é muito melhor?

Que a caca esteja convosco!

P.PS.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!