Acabou-se no fim do mês passado a época taurina e entrámos no defeso. Serviu esta temporada para confirmar aquilo com que já na época transacta ficámos com impressão, que é que o novo regulamento tauromáquico é uma desilusão.
Desengane-se quem julgava que ia haver alguma mudança ou ajuste às regras que regem o espectáculo da festa brava. É que, tirando a questão dos lenços, ficou tudo na mesma. Então e aquilo que era verdadeiro motivo de controvérsia? Que é feito da questão das tentativas de pegas de caras e da sernelha? E mais do que isso: que é feito da problemática das farpas?
Em primeiro lugar, acho, eu, que sou um ignorante, mero apreciador, que as pegas deveriam ser regulamentadas em termos estritos e específicos muito claros. Em vez disso, fez-se como se fez com as rotundas e o Código da Estrada: já que não se consegue fazer cumprir a regra, inventamos um ditame qualquer vago o suficiente para ninguém saber ao certo o que se deve fazer e assim ter oportunidade para levar a cabo o que lhe der na veneta. Não! O que deveria ser era fazer cumprir a regra, isto é, tentar pegas de caras até à terceira tentativa, ao cabo da qual, mal sucedida, se passa a tentativas de sernelha.
Em segundo lugar, farpas nas lides a cavalo. Eu gosto de touradas mas mete-me impressão aquela coisa de espetar bicos no lombo dum touro. Tudo bem, nós sabemos que o propósito da tourada não é lutar com touros, é fazê-los correr. Também sabemos que a cravação da farpa deve ser feita no morrilho, zona onde, para além da pele rija, existe uma camada maior de tecido adiposo e de escassa irrigação sanguínea, ou seja, onde a dor é menos intensa. Sabemos ainda que a fase de maior sofrimento para o touro não é a lide mas sim o cárcere e que dor pouca sente, tal não é o nível de adrenalina que lhe corre no sangue e que da arena sai para ser tratado ou acabar os seus dias no matadouro. Mas caramba, convém dizer que não é nada bonito de se ver e tampouco pedagógico andar a, verdade seja dita, maltratar os animais.
Esta segunda questão leva-me a concluir que as touradas tal como são têm os dias contados. Se queremos continuar a apreciar todo o fausto dos cavalos engalanados, dos ricos trajes, do cerimonial, da música, enfim, da tradição, então há que tornar este espectáculo apreciável e visionável por todos, mesmo os defensores dos direitos dos animais. Eis algumas sugestões minhas em prática, por exemplo, nos Estados Unidos da América, onde a defesa dos animas é tão paranóica quanto paradoxal.
1 - Usar algo de pegajoso ou semelhante a velcro em vez de farpas para se fixar ao lombo do touro. É problemático por causa da pelagem, eu sei, mas é uma hipótese a ponderar.
2 - Vestir uma espécie de cinta ao touro onde se possam fazer as fixações em vez de directamente no lombo. No caso de se fixarem pontas pegajosas ou semelhantes a velcro, a superfície pode ter pouco ou nenhum mais acabamento que o do tecido ou cabedal da cinta. No caso de se optar por se continuarem a usar farpas metálicas, é aconselhável guarnecer a cinta com um enchumaço lombar.
São só duas pequenas sugestões que podem ser empregues tanto em lides a cavalo como a pé. Com qualquer uma delas ou outra similar, o espectáculo poderá ser apreciado por qualquer pessoa sem problemas nem violência. Se o touro é a estrela da festa, não se lhe vai fazer mal, pois não? Certo é que, se não vier a haver verdadeira mudança, as touradas cedo acabarão, com evidente empobrecimento para a nossa tradição e para um negócio que emprega muita gente.
A solução pode não passar por acabar com as touradas mas por adaptá-las, é darwiniano!
Venha daí mas é um novo regulamento a sério.
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!
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