Caros colegas de pombal
Gostaria de ter explorado alguns temas antes das eleições do mês passado. Infelizmente, não me foi possível, pelo que deixo agora aqui breves e resumidos tópicos, nem que seja para memória futura.
Voto correcto: útil ou convicto
Fala-se muito no voto útil, aquele que se dá de forma a beneficiar ou prejudicar determinada candidatura ou determinadas candidaturas. Desta forma, prescinde-se de se votar em quem à partida seria o objecto do voto para que um outro objectivo, considerado mais importante, seja alcançado. Ou seja, muitas vezes um voto seria direccionado para uma candidatura que, à partida, não sortiria efeito prático, normalmente por se saber que não tem impacto na vivência política e que não vai ser eleito, considerando-se assim este voto inútil e que apenas serve para dispersar votação. Votando de forma «útil», os votos concentrar-se-iam em candidaturas com relevância política e capacidades de ganhar ou causar impacto na governação. Na minha maneira de ver, a teoria do voto útil não funciona e é um absurdo, visto que retira qualquer possibilidade de candidaturas menores se fazerem notar ou causarem impacto ou até ganharem um escrutínio, impedindo uma renovação política. O próprio princípio em si de votar em quem não é o alvo da nossa preferência é uma incoerência e vai contra a essência da própria eleição. Portanto, um voto só me parece correcto se o eleitor votar na candidatura que lhe merece confiança e na qual se revê. O contrário não tem qualquer lógica, seja em que circunstância for.
Liberdade ou obrigatoriedade
De vez em quando há iluminados que aparecem com ideias recorrentes. Esta é uma delas. Com frequência antes ou depois de algum escrutínio e perante os números sempre pesados da abstenção, há alguém que vem sugerir que o voto deixe de ser um direito para passar a ser uma obrigação. Segundo esta hipótese, quem não fosse votar deveria ser sancionado com uma multa ou um agravamento fiscal. Este cenário verifica-se nalguns países, como a Bélgica. Creio que não é a melhor forma de encarar o problema e que isso só vem mascarar o descontentamento que existe entre a população para com a classe política. Aliás, a liberdade de voto não se coaduna com este processo que alguns pretendem. Da minha parte digo sem margem para dúvidas: a partir do momento em que o voto passasse a ser obrigatório, eu não votaria mais enquanto esse princípio não fosse revogado. Devemos ter o direito de votar e não a obrigação. Ser obrigado a votar é igual a ser obrigado a não votar. A partir do momento em que se obriga alguém a votar, quem fica a perder é a Democracia e a Liberdade.
Analógico ou digital? O voto electrónico.
Também se fala muito na introdução do voto electrónico. Não sou fã nem acredito na sua eficácia. Sem dúvida que reduziria as despesas em papel e meios de transporte e segurança mas a necessidade de computadores e programas e, logo, técnicos informáticos, obrigaria a outro tipo de despesas e a negócios muito lucrativos para certas partes, como se pode ver nas escolas antes com os manuais, depois com as calculadoras gráficas e agora com computadores, e isto só para dar um de muitos exemplos. Ora as eleições não devem ser negócios. Por outro lado, os sistemas informáticos, por muito bons que sejam e por maior que seja a qualidade das suas protecções, estão sempre sujeitos a ataques e adulterações relativamente fáceis. Por isso, e embora seja mais moroso, não há hoje método de voto secreto melhor do que a da cruz feita num boletim de papel depois enfiado numa urna. E mais digo: que o sistema de contagem deveria ser feito à vista de todos, como se faz em Timor, como forma de não deixar qualquer margem para dúvidas.
Abstenção
Votar é tanto um direito quanto não votar. Porém, parece haver uma pressão no sentido de levar a que as pessoas votem, pelo menos da parte dos políticos. Com perturbadora frequência, oiço gente dizer, mesmo na comunicação social, «não deixe que os outros decidam por si». Quando oiço esta expressão, fico sempre desconfiado. Se alguém decide não votar, apenas está a excluir-se a si próprio da votação, a abdicar naquele instante do seu dever, não são os outros que vão votar no lugar dele. Ou será que são? Para bem da Democracia, espero bem que não se verifiquem verdadeiros certos rumores que às vezes soam por aí nesse sentido, se é que me faço entender.
Outro aspecto a ter em conta é a falta de compreensão dos analistas, comentadores e, acima de tudo, políticos quanto a esta matéria. Em breves palavras, as pessoas dizem abertamente que não vão votar porque não estão para perder tempo com gente que consideram ser «toda a mesma canalha», isto é, que, nos seus dizeres, só se importam com os seus próprios interesses e não se interessam pelos problemas do país. Alguém vai ter de aprender uma lição mais cedo ou mais tarde com a elevada abstenção e também aprender a ouvir o povo.
Debate ou entrevista
As eleições dos últimos anos tornaram-se verdadeiros circos mediáticos comparáveis às mais decadentes temporadas do «Big Brother» e afins, ou seja, vazias de conteúdo e cheias de algazarras, trocas de acusações e insultos e tricas pessoais. Para o efeito, nada melhor que os debates para ilustrar esta época fecal da política. Ver ou ouvir um debate é uma perda de tempo, a não ser para quem queira rir às gargalhadas com um espectáculo deprimente onde amiúde nem se percebe o que e que cada um está a gritar, nem falo em dizer, e durante o qual nenhuma ideia ou proposta é apresentada, analisada ou contraposta. Tal como tenho dito e por estes motivos, nenhum debate é decisivo, ao contrário do que a comunicação social gosta de dizer, nem que ele até decorresse de forma civilizada, nem que um candidato se pusesse de em pelão ou fizesse a saudação nazi. Ao invés, numa entrevista controlada, um candidato pode apresentar as suas ideias e ser relativamente conduzido ou escrutinado pelo entrevistador, o que resultará em proveitoso esclarecimento para os eleitores. Daqui só se gerará desordem se houver numa ou ambas as partes um certo grau de alarvidade.
Estamos esclarecidos?
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário