domingo, 28 de julho de 2024

Adeus amiga e até sempre, adeus Rádio Fóia

 Caros amigos.


Muitas personalidades ilustres vão saindo da convivência entre os vivos e eu, naturalmente, fico amiúde triste e até em choque perante a triste notícia da perda mas não tenho oportunidade de falar de muitos deles. Falar duns e doutros não seria injusto e então acabo, por norma, por me manter num respeitoso silêncio, ainda que os recorde no meu ser. Porém, desta vez vou falar acerca de uma perda que cala muitos daqueles nomes que por ela ainda se faziam ouvir e que agora ficam remetidos ao esquecimento.


Neste quente mês de Julho tenho a lamentar a morte de dois familiares. Um era um primo meu. Apesar de termos vivido a apenas um quilómetro um do outro durante largos anos, apenas tive oportunidade de conversar com ele uma única vez mas guardo desse dia uma muito boa impressão que se transformou agora na tristeza pela impossibilidade de dar seguimento a novas ocasiões de alegre convívio e o desaparecimento de alguém tão bem disposto que um cancro arrastou consigo.


O outro não era da minha família mas eu sentia-o como se fosse. A qualquer hora fazia-me companhia em casa, no trabalho ou em viagens. Não era sequer humana, nem mesmo animal. Porém, havia nela vida e habituei-me a rever nessas vidas parcerias de conhecimento, entretenimento e remédio para a solidão.

 

Quem se deslocasse até ao Sul de Portugal, haveria de, chegado a certa altura, conseguir captar num aparelho receptor radiofónico aos 97.1 MHz o mais castiço posto que eu alguma vez conheci: a minha amiga Rádio Fóia. Era só uma pequena estação de rádio de Monchique mas a sua emissão a partir do ponto mais alto do Algarve permitia-lhe ser ouvida em toda aquela província e ainda no Baixo Alentejo e grande parte do Alto Alentejo. Havia quem a conseguisse ouvir em Lisboa! A sua cobertura, programação animada e variada e constância levaram a que depressa a Rádio Fóia se tornasse, como anunciavam no seu anúncio, «a rádio local mais ouvida no Algarve (Distrito de Faro) e no Alentejo (distritos de Beja e Évora)».

 

Eu, com o meu velhinho aparelho mas de alcance notável, que até apanha um posto do Japão, habituei-me a ouvi-la desde há mais de 30 anos. Ouvir a emissão deste posto era apanhar uma banhada de boa disposição e portugalidade, dando-nos a ilusão de que a nossa cultura ainda existia e Portugal ainda era mais que uma mera mancha num mapa. Outrora, às 7:00 da manhã, a emissão abria solenemente com uma marcha de fanfarra, o que se repetia para o fecho, à 1:00 da madrugada. Há muito tempo que a emissão é contínua, salvo algum temporal ou incêndio, mas aquele toque foi mantido. Todos os dias despertávamos às 6:00 com música tradicional de todo o país. Pela manhã a fora, o «Rota do Sol» trazia-nos sonoridades mais modernas e internacionais. Das 3:00 às 6:00 da tarde, um clássico: o «Expresso da Tarde», com pelo menos uma hora de fados e de resto um sortido de música portuguesa em geral da década de 50 à de 70, com umas pitadas de 80. Discos pedidos das 7:00 da tarde às 8:30 ou 9:00 da noite, assim como nas manhãs dos fins-de-semana. Noticiários nacionais em simultâneo com a Rádio Renascença «através dos emissores ARIC» e também outros de âmbito regional, transmissão de eventos desportivos e religiosos, espaços para os ouvintes recitarem poemas seus ou de comentário a textos bíblicos, programas de comédia e até boletins de agricultura e pescas, tudo isto e muito mais narrado com a velha postura radiofónica característica da época clássica e áurea da rádio e da televisão, com vozes bem colocadas e de clara compreensão agraciadas com uma inconfundível pitada de sotaque monchiqueiro. A intercalar a programação, conselhos práticos de poupança de energia, de segurança com crianças, das autoridades e outros aspectos do quotidiano e anúncios, muitos deles iguais há décadas! Muitas coisas na Rádio Fóia nunca sequer mudaram e essa era uma das coisas que nela se achava piada, como quem já é adulto ou idoso e depara, como eu vi depararem, com uma sempre igual embalagem de Farinha Predilecta que trás ao de cima a alegria de boas recordações. E compraram por isso mesmo! Onde é que hoje em dia ainda se rematavam sempre certos programas com o «4éme Rendez-Vous» ou se anunciavam os resultados dos campeonatos distritais de futebol ao som de outros temas do Jean-Michel Jarre como há 30 e tal anos atrás? Na Rádio Fóia, com certeza! João Costa, Telma Santos, Fátima Peres, Idalete Marques e muitos outros nomes de pessoas de que agora não me recordo que se faziam ouvir e nos davam companhia eram para nós como se fossem conhecidos de longa data. Ficaram para a memória as gigantescas festas de aniversário com emissões contínuas a presentear os ouvintes ausentes do local com as participações dos artistas de renome do panorama musical popular e tradicional nacional, algo de impensável nos dias de hoje pelo custo exorbitante que envolvia. Em suma, a Rádio Fóia era como os bilhetes de cartão rijo da C.P., parecia que tudo sempre fora assim e seria assim para sempre.


Emitia desde 10 de Junho de 1983 e embora estivesse virada para o Algarve, depressa caiu nas boas graças dos alentejanos. E eu, de longe, ouvia-a. De repente, certa noite, fui ligar o rádio e só ouvi estática. Sintonizei e ressintonizei e só ouvi o mesmo ruído. Eu sabia que algo de mau acontecera. Podia ser que tivesse sido só o calor daqueles dias que tinha fritado o transmissor. Nada disso. A Rádio Fóia calou-se no dia 22 deste mês. Problemas financeiros ditaram a sua sentença. Não resistira à modernidade. No seu lugar veio a fazer-se ouvir um novo posto, a Mega Hits F.M., mais uma rádio cheia de barulho e correria, igual a tantas outras.

 

Nos anos 80 ou inícios de 90, uma familiar minha deitou fora uma relíquia, uma antiga telefonia Grundig, só mesmo porque não apanhava a Rádio Fóia. Para mim, quase que se poderia agora fazer o mesmo. Para mim ficou a saudade e a tristeza com a perda de mais alguém que comigo partilhava a vida. Calou-se «a voz mais alta do Sul de Portugal».


Adeus amiga e até sempre!


Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

Estado da Nação: idem idem, aspas aspas...

 O ano passado escrevi um extenso artigo acerca do estado da Nação, uma versão mais alongada do que já tenho advertido aquando das várias vezes que falei acerca das comemorações quase esquecidas da Restauração da Independência. Passado este ano, podia não só republicar o texto mas também acrescentá-lo, visto que muito mais se poderia dizer e a situação não conheceu melhorias, antes tem-se agravado.


Os políticos do rotativismo da Terceira República que continuem assim, que é para os radicais (bloquistas e afins, liberais e cheguistas) continuarem a ter cada vez mais protagonismo. É muito mais fácil vender barato uma coisa estragada que uma boa, certo?


Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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AVISO IMPORTANTE: DADO O ELEVADO TEOR EM EXCREMENTOS CORROSIVOS, NÃO SE RECOMENDA A VISUALIZAÇÃO DESTE BLOG EM DOSES SUPERIORES ÀS ACONSELHADAS PELO SEU MÉDICO DE FAMÍLIA, PODENDO OCORRER DANOS CEREBRAIS E CULTURAIS PROFUNDOS E PERMANENTES, PELO QUE A MESMA SE DESACONSELHA VIVAMENTE EM ESPECIAL A IDOSOS ACIMA DOS 90 ANOS, POLÍTICOS SUSCEPTÍVEIS, FREIRAS ENCLAUSURADAS, INDIVÍDUOS COM FALTA DE SENTIDO DE HUMOR, GRÁVIDAS DE HEPTAGÉMEOS E TREINADORES DE FUTEBOL COM PENTEADO DE RISCO AO MEIO. ISTO PORQUE...

A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!