quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Como deveria ter acabado o «Bem-vindos a Beirais»: Versão Taralhouca

Acrescente-se: como não podia deixar de ser.

Eu fui um daqueles que viu o mais recente êxito da ficção na televisão portuguesa: «Bem-vindos a Beirais», a história de um homem, Diogo Almada, que estava a levar uma vida muito enervante, desgastante e atarefada em Lisboa até lhe dar um badagaio que o obrigou a mudar radicalmente de vida se queria continuar a contar a passagem dos dias. Vai daí e mudou-se para Beirais, uma pequena aldeia do interior onde nem por isso teve mais sossego. Vi a série e, como perdi muitos dos episódios, estou a revê-la, mas aquele sentimento amargo continua sempre.

Ao fim de uns loucos 640 episódios, a série teve um final abrupto a 23 de Março de 2016, mesmo os actores não compreendem o porquê, dado o sucesso inesperado à partida, e muitas coisas ficaram em suspenso. E nós, os telespectadores, ficamos naquela. «Quê?! Então e o Moisés fica assim apartado da Patrícia? E a Luna permanece amuada com o Julien por causa dos caracóis do cabelo serem falsos? E o Agostinho safa-se sempre das trafulhices todas? E o Sandro e a Alexandra, noivos desde a primeira temporada, nunca se chegam a casar? Não, isto não pode ser!» E não pode mesmo. Por isso, invocámos o nosso inspirador Quentin Tarantino e deixámo-nos possuir por ele.

COMO DEVERIA TER ACABADO O
«BEM-VINDOS A BEIRAIS»
(VERSÃO TARALHOUCA)

Na agência funerária, Moisés e Joaquim continuam a tratar do principal negócio da empresa, que é o contrabando de mercadoria rasca a preços exorbitantes. Desta vez, estavam nos sanitários da agência a esconder cocaína por detrás dos azulejos e no autoclismo da sanita. Moisés diz a Joaquim:
- Sabes, eu posso parecer assim, poucochinho...
- Parecer? - interrompeu-o o Joaquim - Deves estar a gozar.
- A sério. - insistiu o Moisés - Posso parecer assim mas sou entendido nalgumas matérias e já viajei um pouco. Ainda aí há uns tempos, por exemplo, fui a França. Aquilo lá é porreiro. Até me confundiram com um terrorista islâmico no aeroporto. Fui detido e tudo.
- Francamente, já não há respeito por um cangalheiro... - comentou o Joaquim com falsa preocupação. O Moisés continuou.
- Lá é tudo muito diferente, sabes?
- Diferente? Como assim?
- Diferente. Olha, por exemplo, eles falam francês, nós não.
- Hum... - escarneceu o Joaquim com surpresa fingida.
- E a comida. É tudo diferente, até mesmo nas grandes cadeias de restauração, como na MacDonalds. Sabes como é que eles chamam lá a um Royale Com Queijo?
   E o Joaquim inquiriu o Moisés, franzindo o sobrolho:
- Então ele lá não lhes chamam também «Royale Com Queijo»?
- Não, pá, eles têm lá o Sistema Métrico. - esclareceu o Moisés. O Joaquim estranhou aquilo ainda mais:
- Mas nós também temos o Sistema Métrico.
- Agora que falas nisso... - pensou alto o primo, para revirar de olhos do Quim. - Mas não interessa. Eles lá chamam-lhe... «Croissant».
- «Croissant»? - duvidou o Joaquim, para insistência do Moisés:
- Sim, a sério. Pergunta ao Julien, se quiseres.
   A menção daquele nome irritou o Joaquim e ele demonstrou o incómodo com palavras cheias de desprezo:
- Não quero saber desse... rapazolas. Ele anda aí a papar a minha Luna...
- Andava, - corrigiu o Moisés - que ela anda lá chateada por causa da permanente que ele fazia para ter caracóis.
- Gajas, que é que se há-de fazer? - rematou por fim o sócio mais avantajado.
   Assobiava ele o «Camionista Cantor» quando o primo deixou cair um pacote. Este rompeu-se e eles verificaram que aquilo não era cocaína mas sim farinha Amparo passada do prazo. Raios! Se fosse Branca de Neve com uns cinco anos além do limite ainda conseguiam ludibriar o Turco. Agora assim estavam lixados. Pior: tinham sido enganados pelo fornecedor, o Agostinho. Uma ideia correu-lhes a cabeça: 
- Vamos lixar esse bandalho até os cães cantarem o fado. - verbalizaram em simultâneo.
   Chamaram o Júlio, o Vítor e a Zèzinha e mostraram-lhes um caixão cheio de documentação que tinham conseguido reunir ao longo dos episódios sobre as artimanhas do ex-autarca mafioso e do seu antigo sócio de conluio ilícito, o Fernando.
- Finalmente vamos poder prender o maior meliante de Beirais - afirmou orgulhoso o sargento à Zé.
- Quem, o Homem-Burro ou o Mancha Negra? - procurou esclarecer o Vítor, para desnorte dos restantes presentes.

Entretanto, a Luna lá reconheceu que era uma parvoíce deixar o Julien por causa de uma futilidade. Francamente, deixarem-se por causa de caracóis? O Hélder Agapito, protagonista de Julien, até tem mesmo caracóis! Portanto, foi-lhe pedir desculpas, reataram o namoro e foram passear pelo campo que é para tratarem de uma caracolada... ao natural! Pelo caminho cruzaram-se com o jipe da Guarda a alta velocidade, cerca de 30km/h.
- Para onde irão? - interrogou-se o Julien. A Luna acenou-lhe com os seus cometas e aconselhou-o a não se desconcentrar, quer era para não queimar os caracóis.

Chegados à casa do Fernando, os guardas e os cangalheiros confrontaram-no com as provas enquanto ele mudava a fralda ao filho, já que a esposa estava a tratar da gestão da fábrica. Confirmou os factos, acrescentou mais uns quantos, colaborou com a investigação e juntou-se ao grupo para irem linchar, quer dizer, deter o Agostinho.

Na igreja, o Sandro e a Alexandra estavam finalmente a casar. No momento em que o padre dizia aquela lenga-lenga do se alguém tem algo contra o casório e blá blá blá, o grupo entra de rompante com o jipe pela portada do templo e saem de lá de canhangulos em riste, para susto e espanto geral. Grita o Júlio:
- Mãos ao ar, patife! Estás detido em nome da lei!
O Moisés ainda pôs as mãos no ar mas o Joaquim deu-lhe uma cotovelada e apontou para o Agostinho, que se levantara de entre a multidão que assistia à boda. Entretanto, o ex- presidente da Junta saca de uma metralhadora escondida no casaco e grita para os guardas:
- Ninguém me apanha, aqui mando eu, seus anormais, aberrações, seus, seus... suas aventesmas, estropícios!
O público entra em debandada à medida que as balas esvoaçam de parte a parte. O Moisés atirou-se à Patrícia, gritando o seu nome, e derrubou-a mesmo a tempo de se escapar a uma rajada de balas nas horas dum cacete, as quais ficaram cravejadas no retábulo logo ao lado. Deitados no chão, a Patrícia olhou maravilhada para o seu antigo parceiro de namoro, levou-lhe as mãos à cara e disse-lhe com admiração:
- Moisés, tu salvaste-me a vida!
- É, sabes como é, - disse ele com embaraço - ele indicava «três» com os dedos de forma suspeita, não como nós fazemos. Eu já andava desconf...
Com um beijo ela calou-o e ali ficaram no arrefinfanço enquanto o tiroteio prosseguia acima das cabeças deles.
Eventualmente, as munições acabaram-se. Nesse instante, o Agostinho sacou do seu sabre japonês e lançou-se aos militares da G.N.R.. Surpreendente, o Quim travou-o com a sua Hattori Anzo.
- Calminha aí, ó compadre. Agora é que vais ver como aqui o Quebra-Ossos fatia as batatas...
Lâminas bateram, metal faiscou e a população ficou boquiaberta com aquele duelo inesperado de piruetas e malabarismos que parecia saídos da «Guerra das Estrelas» ou do «Era Uma Vez Na China». Até se ouvia o «Duel of Faits» de fundo e nem a Dona Olga se queixou da natureza inadequada do tema para um coro eucarístico.
- Não me chates! Vai ter com o Zed! - gritou o Agostinho ao Joaquim. Este relembrou-o:
- Não te esqueças que eu sou cangalheiro. Sei muito bem que o Zed está morto, querido. O Zed está morto.
E como isto não andava nem desandava, o Diogo chegou-se ao pé do Agostinho e aplicou-lhe um pêssego do Programa Origens no focinho, que o tipo ficou logo estendido, inconsciente.
- Vá lá, os moços estão já a ver que não se dão mesmo casado!
A Clara despachou-se a abraçá-lo e a dizer-lhe aquela coisa do «és o meu herói», embora ela quisesse mesmo era «cultura de morangos» e podia ser daqueles que davam moca e tudo. Horas mais tarde, estava o Agostinho no xadrez com um olho à Belenenses, o Diogo e a Clara na morangada e a população de Beirais em geral feliz da vida.

Então, seria assim tão difícil engendrar um grande final destes? Tarantino é que sabe!

Que a caca esteja convosco!


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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