segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Crítica Literária: «A Monga e o Lindo Ismael», de Guilhermina Filipe

Há mais de um ano, submetemos à análise os exemplares que nos chegaram às mãos de «A Ponte» e «A Pastora Liza», ambos de Guilhermina Filipe. Estremecemos, nem sei se de riso se de pânico. Pois agora vamos surpreender-nos com «A Monga e o Lindo Ismael», da mesma autora.

- Género - Trata-se também de um romance, daqueles cuja temática passa, como é costume, por uma previsível relação que se diria morganática, algo muito do género do que se escrevia na segunda metade do século XIX. Foi publicada em Dezembro de 2014.

- Organização - Nenhuma em particular. É uma edição de autor de 41 páginas de texto corrido sem nenhuma divisão por capítulos.

- História - Uma rapariga orfã, Rosali, vive num casebre apartado da aldeia, na companhia de um cão, um gato e um rebanho de cabras. É como um bichinho: de modos abrutalhados, anti-social e de mau agrado para os outros, para o que também muito contribuem os trapos esfarrapados em que se embrulha, as botifarras esfuracadas e o cabelo desgrenhado. A população da aldeia não gostava dela. Certo dia, cruza-se no campo com Ismael, filho do merceeiro, moço de simpatia e instrução, e ele fica deslumbrado com ela, vendo aquilo que ninguém mais consegue ver. Desde então, passa a observá-la e vai-lhe deixando secretamente livros para ela ler e se ir instruindo. Aos poucos, ela vai-se dando conta de novos saberes e realidades e torna-se numa verdadeira dama, em nada inferior às prendadas moçoilas da aldeia.

- Crítica - Como é hábito, o livro está pejado de erros e gralhas. Logo na suposta página de rosto, damos com um título diferente do que vem na capa, com «Isamel» em vez de «Ismael». Ao longo de 42 páginas (a última está em branco), temos o título no cabeçalho também com «Isamel» e a nossa dúvida quanto ao nome do rapaz só se desfaz quando ele aparece na história com o nome «Ismael». 

Desta vez, dei-me ao trabalho de contar as falhas de escrita. Esquecendo os tais 43 Isaméis e limitando-me apenas ao texto, contei de relance 251 faltas de pontuação, 30 de acentuação e 104 erros ortográficos. Ao menos, desta vez o nome da autora veio bem escrito: «Guilhermina» e não «Ghilhermina». Vejamos alguns exemplos caricatos de lapsos e coisas que ninguém percebe bem o que é que a autora quis dizer com aquilo.

Página 11 - «Porque ali não havia pão de borla para ninguém, quem quisesse comer tinha que cavalo.»

Página 21 - «O mesmo rodilho de trapos como uma heroína de Cabul.»

Página 27 - «Dissidiram»

Página 31 - «de forma abruta»

Como já vimos na crítica aos anteriores livros, a escrita não parece obedecer a nenhum princípio regulamentado, embora aqui se tenda a aproximar ao infeliz Pseudo-Acordo de 1990/2009. Ainda assim, está muito melhor no aspecto da ortografia que os dois antecessores.

Logo a seguir, continua a insistência com nomes bizarros. Compreende-se a ideia de querer dar um ar deslocalizado ao romance mas para isso davam-se nomes estranhos a todos. Assim, no meio de vários Josés, um António, uma Rosa ou um Serafim, aparece uma Zuleida e uma Rosali. Zuleida é invulgar quanto baste e soa a algo saído da mente perversa de uma madrinha de há algumas décadas ou dum filme de ficção científica alternativa da década de 70. Já estou a ver: «Super Zuleida e os Quebra-Cometas da Galáxia»! Radical, não? Já «Rosali» é daquelas coisas. Porque não Rosa, Rosalinda, Rosália ou Rosélia? Ismael, enfim, não é comum mas não é invulgar demais.

Mais: a autora farta-se de divagar, o que até nem sempre é mau, embora dê por vezes a sensação de que se está a empalhar o discurso por haver nele falta de conteúdo. Pode ser só do meu terrível gosto e mau feitio mas acho que, em 41 páginas, falta acção.

Por último, fica-se com a sensação de que já vimos esta história algures e de que a atracção do Ismael pela Rosali é mais rápida e precipitada que os casamentos n'«As Pupilas do Senhor Reitor».

- Veredicto - O livro tem um ponto muito negativo: as constantes porradas que a língua portuguesa sofre, quase tão más quanto as que a Academia das Ciências afinca. A história é curta e quase passa despercebida no meio das descrições e divagações. Chega-se ao fim com um sentimento de que devia haver algo mais, tendo em conta que a introdução abarca perto de um terço da prosa e que a história acaba em suspenso, deixando um futuro desenlace aos critérios da imaginação dos leitores. Este romance assemelha-se muito ao d'«A Pastora Liza», embora muito amansado e sem tiques sacados do P.R.E.C.. Aquela da moça, não «mossa», orfã e do rapaz que regressou dos estudos faz lembrar muito o referido clássico de Júlio Dinis ou «A Rosa do Adro» (Rosa, Rosali?), de Manuel Maria Rodrigues, muito semelhante em muitos aspectos ao outro e publicado apenas quatro anos depois. Dá que pensar. 

Contudo, e deixando de lado o quanto nos podemos rir ou chorar com as calinadas gráficas, este livro constitui uma notável evolução em relação a «A Ponte» e a «A Pastora Liza», o que me leva a deixar um apelo à autora para não desistir e continuar a tentar mas que pense bem e reveja tudo antes de publicar mais qualquer coisa. O talento está lá, tem é de ser explorado e um dia há-de revelar-se.

Em suma, não é grande coisa mas é legível. Venha o seguinte!

Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

Sem comentários:

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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!