quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Crítica Literária: «A Ponte» e «A Pastora Liza» de Guilhermina Filipe

Há malta que me diz que eu sou um inculto, um analfabruto troglodita. Pois eu agora e num outro artigo de futuro vou provar que sou mesmo um troglodita «aincultural», se é que me faço entender. Ora não há melhor modo de demonstrar esta brutidade toda que analisando um livro. Melhor: dois livros!

Hoje temos «A Ponte» e «A Pastora Liza», de Guilhermina Filipe, ou Ghilhermina, como, por lapso ou de propósito, aparece escrito nos livros. Vamos ao ataque.

«A PONTE»
- Género - Trata-se de uma auto-biografia parcial. A autora descreve parte da sua vida, com foco em certos episódios encadeados, desde a sua infância, na aldeia de Tinalhas, Concelho de Castelo Branco, Beira Baixa, até à época em que morava e trabalhava em Albufeira, Algarve. Foi publicado em Dezembro de 2013, em simultâneo a «A Pastora Liza».  

- Organização - O livro tem uma introdução, com uma ligeira descrição de Tinalhas e onde se lança o mote para o livro, como se verá na «crítica» deste artigo. Desenrola-se depois a narrativa sem divisão por capítulos, ao longo de 31 páginas, às quais se seguem três dum poema em rimas brancas, ou seja, que não rima coisa alguma.

- Crítica - Este livro é de uma edição de autor, como vem na capa, pelo que não saiu ao público pela mão de nenhuma editora. Vendo nem se quer é preciso que seja muito bem a coisa, instantaneamente chegamos à conclusão que jamais editora alguma cometeria o suicídio de o fazer. Quando agarramos num exemplar, olhamos para a capa e temos logo a particularidade de lhe encontrar escrito aquilo que deveríamos constatar só no fim, que é a moral da história (não «História», como ela erradamente escreveu, que é outra coisa diferente). Diz ela:

«Moral da História: NÃO DESCUIDES VOSSOS FILHOS MENORES NAS MÃOS DE UM MÉDICO. PODE SER FATAL!»

Médico? Mas médico quê? Médico psicopata? Médico pedófilo? Médico político? Não? Então com uma construção da frase assim, não são os menores que precisam de ir ao médico. «Não descuides vossos filhos...» Logo aqui ficamos com a sensação de que isto não vai acabar nada bem... Os nossos receios ficam confirmados ao ler a Introdução, nomeadamente logo no primeiro parágrafo, onde se lê: «Ele dizia-me, se escreveres um livro, escreve com merda, porque isto é tudo merda, e maldito seja a hora em que nesta terra nasci.» A citação está tal e qual, letra por letra e acho que aqui ficou logo tudo dito. Temos aqui os primeiros ingredientes de uma receita para o desastre. Depois, a história desenrola-se, cheia de analepses e prolepses com frequência introduzidas sem dizer «água vai», ao sabor caprichoso e inconsequente de uma memória divagante. Não? Então vamos só ver um de vários casos. Página 23:

«E o milagre aconteceu, deixei de sentir quele [sic] pús [sic] que me empava [sic] a boca
Tudo isto eu tinha esquecido, não fora a compra da casa onde passei a minha primeira infância.
Casa essa que com alma viva me fez lembrar tudo o que eu esquecera em quarenta anos.
Mas ainda não falei da minha primeira escola.
Quando ia para a escola (...).»

Mais bizarro ainda é que aparece aquele tal aviso na capa sob a forma duma ridícula «moral da história» e ficamos com a sensação de virmos a deparar com alguma situação que, de qualquer modo, constituiu uma violação ao código ontológico, uma grosseria sob o ponto de vista ético, algo que um qualquer médico tivesse feito a ela enquanto menor ou a algum seu familiar ou amigo. Não, nada de mais acontece. É visado um tal Dr. Calaça ou Calassa, visto que aparecem as duas formas no texto e ficamos sem saber qual é a correcta mas nunca em nenhuma situação comprometedora sob qualquer ponto de vista. Apenas a autora tinha uma raiz dum dente infectada e andou anos amedrontada com a possibilidade da morte iminente com um cancro imaginário pois o médico procurou explicar-lhe melhor qual o problema dizendo-lhe que era provocado por uns bichinhos na boca. Que outra coisa poderia dizer a uma criança sem qualquer noção básica de Medicina? Para além disso, a narrativa oscila entre as considerações biográficas, a crítica política e social, as fadas, as descrições e sabe-se lá que mais com frequência sem grandes cuidados de manter uma relação entre os temas ou um fio condutor. O próprio porquê do nome ser «A Ponte» permanece um mistério aos distraídos. Já os atentos reparam que, no quarto parágrafo da página 18, diz:

«O Alentejo é como um mar que eu tenho de atravessar, para fazer a ponte entre Tinalhas e Albufeira.»

Sùbitamente, tudo acaba na página 31 e dá lugar ao tal poema onde não há métrica nem rima. Os próprios «versos» não fazem grande sentido. Eis um exemplo. Quinta estrofe:

«Mas a poesia essa vem atrás
do despravado amor
aproveitando a ocasião
pois ela sabe decerto
que o passarinho canta melhor
se lhe cortarem as asas»
[sic, sic, sic, tvi, rtp...]

Reminiscência da obra de Vincent Price ou alegoria sobre o efeito da depilação púbica? Boa pergunta... E por fim a cereja no topo do bolo. Na décima terceira de 16 estrofes, eis que se dá a estranha invocação... pela Síria?! Estranho para uma auto-biografia, o que só não estranha mais porque, a esta hora, já estamos entranhados de tantas coisas estranhas.

- Veredicto - O livro apresenta alguns retratos muito interessantes da vida em Tinalhas e Albufeira nas décadas de 60, 70 e 80 do século XX, testemunhos curiosos e preciosos para um estudo futuro e melhor compreensão da vida nas duas terras. Também ocorrem pontualmente boas tiradas e passagens de génio da melhor qualidade literária. Contudo, isto são gotas de água num oceano. Nota-se que o livro teve como único objectivo criticar algumas pessoas em específico, com destaque para o Dr. Calaça/Calassa/Chalaça, mas nem nisso foi bem sucedida. Em geral, tudo aqui é mau a um nível atroz. A história não está bem contada, é de estrutura anárquica, não tem um fio condutor, está pejada de desvios e divagações, já para não falar nos saltos espaço-temporais que deixariam o Doutor Emmett L. Brown a largar fumo pelas orelhas e dizer «great scot!» em modo de disco riscado. A linguagem é péssima, pejada de más construções das frases, arrepiantes conjugações verbais, gralhas e erros ortográficos impossíveis de inserir como correctos em qualquer regra de escrita da língua portuguesa. Portanto, este é um livro a não ler, a não ser que procuremos os tais retratos da vida quotidiana ou nos queiramos urinar a rir com tantos atentados à literatura, à língua e à escrita. A bem dizer, maior atentado cometeu a autora, ao ter tido a despesa de publicar tamanha nulidade literária.

«A PASTORA LIZA»

- Género - É um pequeno romance que foi concebido como conto infantil mas que, como a saga do Harry Potter, degenerou em algo muito diferente. Foi publicado em Dezembro de 2013, em simultâneo a «A Ponte».

- Organização - Nenhuma, a história decorre em 14 páginas sem divisão por capítulos.

- História - Liza, uma jovem pastora, andava a apascentar o seu rebanho no Monte de Balfeche, perto de Tinalhas, quando apareceu Eiateclil, o rapaz, mais ou menos da mesma idade de Liza. Ordena-lhe com rudeza que abandone com as suas cabras a terra, que lhe pertencia. Depois de uma discussão, vai cada um para seu lado mas ficam ambos a matutar no sucedido. Tanto era o ódio que nutriam um pelo outro que se apaixonaram. Tudo acaba com os dois juntos.

- Crítica - O livro junta um conjunto de frases e ideias feitas de modo encapotado a uma história que se pretende romântica mas que acaba por ser patética. Como podem dois tipos de classes sociais muito distintas que se encontram uma vez, mordem-se que nem cães, ficam com ódio um ao outro e, no encontro seguinte, já derretidos de amores, abraçam-se calorosamente? Mais inverosímil que os «Transformers»...

- Veredicto - Ainda bem que a autora gosta de nos pôr de sobreaviso. Na contracapa aparece escrito:

«Em Tinalhas no Monte do Balfeche um cavaleiro surge por entre pedras e tojos Liza reivindica o direito universal da terra a reforma agrária.»

A ausência da quase totalidade da pontuação e a menção à reforma agrária remete-nos para o P.R.E.C. e aí ficamos logo outra vez com a impressão que aquilo, tal como «A Ponte», também não vai dar nada bom resultado. Toda a gente sabe que juntar ideologia comunista a um romance pseudo-infantil não é das misturas que melhor se digerem. Ao abrir o livro, obtemos a confirmação na dedicatória, que está no reverso da capa:

«Dedico aos mais belos pirilampos que na noite escura brilham Dedico à Susana e Beatriz duas luzes brilhantes na noite escura»

Dedicar o livro aos pirilampos é estranho mas dedicar duas luzes brilhantes a uma tal Susana e Beatriz é algo verdadeiramente bizarro. Quanto à história, é inconsequente, irracional e, de tão má que é, apesar de simples e linear, de desfecho paradoxalmente previsível. O resto é o mesmo que se diz acerca d'«A Ponte». A linguagem é péssima, pejada de más construções das frases, arrepiantes conjugações verbais, gralhas e erros ortográficos impossíveis de inserir como correctos em qualquer regra de escrita da língua portuguesa. Portanto, este é um livro a não ler, a não ser que nos queiramos descascar a rir com tantos atentados à literatura, à língua e à escrita ou, pelos mesmos motivos, cortar os pulsos e vazar os olhos como garantia de que nunca mais iremos ler um crime daqueles. A bem dizer, maior atentado cometeu a autora, ao ter tido a despesa de publicar tamanha nulidade literária.

***

Fala-se tanto em proteger o meio ambiente e a saúde pública. Porque não começar a fazê-lo evitando publicar coisas destas. Não só não seriam sacrificadas árvores para virem a ser transformadas em papel para tão tristes finalidades como se evitaria o enlouquecimento de eventuais leitores, em particular os letrados e intelectuais, e seu consequente internamento nos hospícios. Bizarria das bizarrias é que ambos os volumes contam com uma segunda edição! Tenebroso, não é?

Que a caca esteja convosco!


P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!


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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!