O NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO EXPLICADO DE MODO FÁCIL (2)
2ª - Base IX - Outra sucessão de incongruências, só para ser simpático, aparece na secção da acentuação gráfica das palavras paroxítonas, que são as acentuadas na penúltima sílaba. Diz no número 7: «Prescinde-se do acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico oral fechado em hiato com a terminação -em da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.» Ora ao retirar o acento circunflexo do primeiro e da sequência êem, como em crêem, ficamos com ee, como nas seguintes palavras: compreende, repreensão, surpreendem e veemente. Em conformidade com as novas regras, todas estas palavras compartilhariam a sequência ee. No entanto, se aquelas às quais se pretende retirar o acento circunflexo se lêem e, como tal, devem ser escritas êem, todas as outras lêem-se iem. Se são casos diferentes, porquê meter tudo no mesmo saco?
Bacorada seguinte, no número 9, que diz: «Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, e pelo(s), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc..» Vamos lá ver se nos entendemos. Não são funções primárias e essenciais dos acentos gráficos assinalar as vogais acentuadas, distinguindo assim na escrita palavras de igual grafia mas diferente acentuação, deste modo possibilitando uma mais correcta tradução da escrita para a oralidade e vice-versa? Suprimindo a acentuação, não deixará isso de acontecer? Não criará isso uma enorme confusão para quem lê? Tal medida só faria sentido numa língua em que não houvesse grande variedede e distinção entre vogais abertas, fechadas e acentuadas. Se em Portugal há essa variedade e distinção, no Brasil não.
3ª - Base XV - Sigamos para a base que trata do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares. Também aqui há asneiras. Diz a observação do número 1: «Certos compostos em relação aos quais se perdeu, em certa medida,a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc..» Quanto a girassol ou pontapé não há qualquer questão mas se o mandachuva levanta dúvidas (guarda-chuva, manda-chuva, meus amigos), paraquedas e paraquedista são, no mínimo, problemáticos. Em primeiro lugar, quem lê as palavras lê para e não pára, pois falta lá o acento. Como aquela sílaba (pá) é antes da esdrúxula, a antepenúltima, pára tem de ficar destacado do resto para receber acento. Em segundo, para é o prefixo que designa algo em prol ou que é quase outra coisa, como um paramédico é alguém com um estatuto próximo do de um médico mas não é médico ou uma parafarmácia não é uma farmácia mas um é estabelecimento parecido. Logo, umas «paraquedas» devem ser umas quase quedas ou algo parecido a quedas. Quanto a um «paraquedista» não sei mas deve ser alguém doutrinário e defensor das «paraquedas». Em suma, um tiro no pé.
Vem escrito no número 6: «Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjectivas, pronominais, adverbiais, propositativas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas excepções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-prefeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:
Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar; (...)» Os autores do «Acordo» estiveram muito distraídos porque é costume e hábito entre nós escrever pelo menos fim-de-semana com hífenes.
4ª - Base XVI - Os pontapés na Gramática parecem alcançar o ilimitado na base do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação, nomeadamente no número 2, que cito: «Não se emprega, pois, o hífen:
a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microrradiografia.
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudo-prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adoptada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducação, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.»
Estas regras acarretam três problemas:
1 - são uma insignificância desnecessária, ou seja, trazem alterações ridículas e sem necessidade e propósito;
2 - o o da sequência co, quando não acentuado, é fechado se ligado a outra vogal que o suceda (conferir com coelho, Coimbra ou coordenar), o que o obriga a ficar destacado do resto da palavra, até porque em muitas palavras este prefixo fica antes da antepenúltima sílaba, pelo que não pode receber qualquer acento gráfico;
3 - o argumento que baseia as regras, o de que é uma prática adoptada e generalizada, é falso e basta olhar para qualquer documento técnico para constatar essa gigantesca e descarada mentira.
Mais uma vez, relembro que nada, NADA, NADICA DE NADA, tenho contra o Brasil.
(Continua)
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!
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