sábado, 14 de dezembro de 2024

Ronda pelas tradições quase esquecidas: ramos de frasca

 Para quem acha que neste blog só se escrevem asneiras, aqui vai um assunto cultural, o qual já devia ter sido falado há bastante tempo.

Foi já em Setembro de 2022 que fui a Santa Clara-a-Velha, uma pacata aldeia do Concelho de Odemira, e me deparei com a ocorrência de um casamento, algo que ali não acontecia já há cinco anos, segundo me contaram. Contudo, havia algo de invulgar a acontecer. Um grupo etnográfico local, as Gentes do Alto Mira, com os elementos trajados a rigor, tocava temas tradicionais à saída do novo casal da igreja. Numa pausa entretanto feita, a que me parecia ser a líder do grupo, a Dona Odete, explicou o que ali se estava a passar bem como o significado de uns curiosos objectos que sustinham.

Antigamente, as bodas nesta parte do Alentejo processavam-se de maneira um bocado diferente da que hoje é o uso comum. Quando alguém se casava, não tinha grandes posses. No fundo, a vida conjugal ia-se construindo ao longo do tempo. Por isso, em vez de serem os noivos a proporcionar aos convidados o copo d'água, eram os convidados que traziam consigo muitos dos comes e bebes. Para o efeito, aproveitavam os aros de madeira de peneiras cuja rede se tinha estragado e montavam uma espécie de esfera armilar fixa a uma vara com que se erguia e segurava pela mão o objecto. A esfera era então decorada com recortes elaborados de papel colorido e nele costumavam também fixar-se biscoitos ou outros tipos de bolos secos, as mais das vezes simples bolinhos de manteiga. A estes objectos peculiares dava-se o nome de ramos de frasca. Estes seriam transportados à mão, fosse a pé ou em montadas, pelos convidados até ao local da celebração, normalmente num alegre cortejo que costumava contar com cantigas.

 


Grupo «Gentes do Alto Mira» com os curiosos ramos de frasca. Fotografia gentilmente cedida por um dos convidados para o casamento.

De acordo com a mesma narradora da ocasião, a última vez que tinha tido notícia de se ter levado a cabo este costume, teria sido 80 anos antes, aquando do casamento dos seus pais, e os ramos de frasca teriam sido feitos por Delfina de Góis. A reacção de alegria não se fez esperar. Ao que parece, era parente de muitos dos presentes. Outro dado curioso que obtive é que numa derradeira ocasião mais recente o costume ainda foi usado: nada mais nada menos que 78 anos antes, isto é, em 1944, aquando do casamento dos avós do noivo que agora se casava, sendo que a autora dos ramos de frasca foi a mesma Delfina de Góis.

Achei o costume tão curioso que me pus a investigá-lo. Porém, não encontrei qualquer menção nem em documentação nem na Internet. Passei então à pesquisa no terreno e encontrei ainda recordações disso entre as pessoas mais velhas. Noutros tempos, muitas pessoas iam do Algarve para o Alentejo trabalhar nas mondas e nas ceifas. Consequentemente, o costume foi levado também para a província mais meridional do nosso país, sendo que nos inícios do século XX era um hábito corrente em pelo menos parte dela. Se o mesmo aconteceu em terras a Norte do Alentejo, isso já não sei dizer. Contudo, em meados da mesma centúria, caiu quase sùbitamente em desuso e ficou no esquecimento até este grupo etnográfico o ter recuperado.

Fiquei tão admirado quanto curioso quanto a esta celebração e só tenho a dar os meus louvores às Gentes do Alto Mira, esperando que a bonita tradição tenha sido recuperada e continue a ser feita, devolvendo assim mais um pouco de brilho e riqueza à nossa cultura.

Que a caca esteja convosco!



P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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