segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Este lugar triste que habito

Eu moro num sítio triste. Habito num lugar de aspecto feliz mas de onde há muito tempo a alegria fugiu. Aqui trazia eu as ovelhas a pastar quando eu era um jovem ovelheiro. As antiquíssimas árvores que nos abrigavam e davam pequenos petiscos foram arrancadas para dar lugar a casario e parque de estacionamento. Uma sobrou, uma oliveira centenária, e novas foram plantadas. Em vez do bucólico gado há agora gente triste. Uns são tristes porque nisso os tornaram e outros são-o porque nisso tornam os outros.

Aqui há quem dê presentes aos vizinhos e lhes mostre simpatia mas com o único intuito de vir a tirar proveito da situação, usando e manipulando os fracos e incautos. Quando estes já para nada serves ou se tornam em empecilhos, são deitados fora pelos primeiros. Com sorte, passam a ser como se não existissem. Aqui há delito de opinião. Quem diz o que pensa é censurado. Se fala a verdade, é punido com a ostracização. É que é preferível a esta triste gente aceitar como facto uma mentira e acreditar piamente nela, sabendo que é aldrabice, se esta servir os seus interesses. No lugar onde eu moro, cumprimentar é uma acção suspeita pois quem o faz, consoante a conveniência de quem o recebe, ou tem o silêncio como troco ou é acusado de ser hipócrita. Há quem não goste dos sons da Natureza. Não se pode ter sequer um pássaro sem que não tenhamos os guardas a baterem-nos à porta. Uns fazem o que lhes dá na gana, mesmo que prejudiquem os outros e o bem comum, mas nunca deixam de serem vizinhos exemplares e dedicados. Ao invés, quem é respeitador para com os outros e as instituições é visto como uma ameaça. Consequentemente, é odiado por uns e dele os outros fogem, não vá alguém sofrer as consequências de ser visto a confraternizar com um «perigoso». O visado chega ao ponto de evitar conviver com os outros para não lhes causar problemas. Neste sítio onde moro, as pessoas que julgamos serem correctas são parasitas sociais ou lacaios simbiontes tácitos destes.

Sob a aparência dum lugar simpático, existe um ponto de insalubridade urbana e cinismo dissimulado, onde a atmosfera pesada de falsidade e falta de união fazem desejar a solidão a qualquer um em vez de tão indesejadas companhias. Há aqui boa gente, é inegável, mas a conduta de alguns outros e o negrume da consequente envolvência actuam como um buraco negro emocional, sugando qualquer réstea de animação de todo o ambiente em redor. Neste sítio, já só as frondosas árvores eram motivo de contentamento para as almas ensombradas pelos desalentos quotidianos. As jovens tipuanas, com o seu verde radioso polvilhado de numerosas flores amarelas, e a oliveira anciã, marco quer da divisão de três terras quer da abundância de excelsas azeitonas e deleite à vista.

Quando certa noite cheguei a casa e vi todas as árvores do arruamento cortadas, aquelas sob as quais os miúdos brincavam e os graúdos conversavam e sob as quais se planearam futuras jantaradas, vi mais que cepos esvaindo-se em seiva, vi definitivamente morto o último resíduo de alegria e união desta malfadada urbanização. Não foram as folhas caídas ou o passeio levantado e irregular que as sentenciaram, foi a mesquinhez e a trica. É que aqui usam-se pretextos para fazer algo como modo de atingir alguém. Desta vez, como noutros, eu fui um dos atingidos. E ali, ao ver o vazio daquela rua desarborizada, vejo também um vazio de bondade. Pode tudo até não ser bem assim e ser muito disto mera impressão minha mas a nudez deste espaço conjugada com o o seu ambiente não me conseguem fazer chegar a outra conclusão. Um lugar tão negativo não é o meu lugar. Nada mais de bom lhe consigo dar e nada mais de bom nele vejo. Aliás, este lugar está a fazer de mim e dos meus pessoas piores. Resta-me apenas demandar a alegria antes que este lugar triste me torne tão triste quanto ele próprio e parte dos que nele moram.

No final, deixo aqui a questão. Os meios urbanos estão a perder as suas características de aldeias em ponto grande e muitos já o perderam mesmo. Tornam-nos pessoas sós, introvertidas, egocêntricas, em suma, infelizes sem darmos por isso. Num mundo em que se privilegia o individualismo e a competição, quantos lugares tristes ou mais que este não existirão? Urge revalorizar a camaradagem e a cooperação em prol da felicidade.

Tornarmo-nos boas pessoas e fazermos da nossa morada um lugar feliz está nas nossas mãos e nas de todos.

Que a caca esteja convosco!

P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!