Há tempos, foi noticiado algo de inédito na História da Humanidade. Resta o futuro responder à minha dúvida quanto a se será uma curiosidade histórica ou um marco histórico. A Albânia passaria a ter uma ministra responsável pelos contratos públicos. Chama-se Diella, nome que quer dizer «Sol» em albanês, está em funções desde Janeiro como assistente e desde Setembro como ministra e a intenção é a de livrar os contratos públicos de qualquer forma de corrupção e tornar os processos o mais transparentes possível. Mas em que medida isto pode funcionar ou ter relevância global? É que a Dona Diella não existe fìsicamente, é um programa informático que funciona por inteligência artificial.
Este acontecimento veio agravar alguns dos meus receios. Compreendo a intenção de isentar os procedimentos de influências humanas. Bem sabemos que, como diz o provérbio, «quem mexe no mel, lambe os dedos», ou seja, que há sempre quem aproveite o tratamento de certos assuntos dos quais é responsável para beneficiar alguém ou mesmo ele próprio. Neste aspecto, este tipo de «utensílio virtual» até pode ser bastante proveitoso. Porém, tem as suas restrições. Não estaremos também assim a ignorar uma capacidade muito humana de resolução de problemas? Os automatismos, sejam máquinas ou programas informáticos, estão programados para agir de determinada forma e esta acção é limitada por aquilo para o qual foram concebidos ou pela programação que lhes foi dada. Portanto, a sua forma de desempenhar funções e resolver problemas é restrita. Ao invés, a mente humana pode ter limitações físicas e de conhecimentos mas tem a capacidade de agir segundo uma forma para a qual não foi programada. E isto porque tem imaginação, pensamento abstracto e capacidade de adaptação a uma situação. Daí deriva a arte, uma certa maleabilidade para apreciar e agir e o génio inventivo. E isto, por muito bem preparado e programado que seja, um automatismo jamais poderá fazer pois só faz aquilo para o qual foi programado fazer. Estaremos nós, humanos, a ficar tão alheios à realidade e estupidificados que nem confiamos uns nos outros para nos regermos a ponto de entregarmos o poder a entidades virtuais?
Durante décadas, assistimos todos a filmes e livros de ficção científica, como o «Exterminador Implacável» ou o «Matrix», por exemplo, em que a Humanidade se via dominada e perseguida por máquinas. Ao longo de todos esses anos, divertiamo-nos com eles por não passarem de mera imaginação e entretenimento. Com o passar do tempo, a tecnologia foi evoluindo e trazendo à realidade algo que pertencia ao domínio da ficção. Neste último ano então, a inteligência artificial conheceu um avanço espantoso e fez-nos ver que aquilo que até há pouco tempo só existia no imaginário agora é a realidade dos nossos dias.
Têm-se levantado vozes de alerta face a estas novas tecnologias. Em primeiro lugar porque a evolução tecnológica tem sido tão repentina que não consegue acompanhar o progresso das mentalidades, o que gera sempre situações perigosas. Para além disso, tanto estas novas tecnologias nos facilitam a vida que nos tornam ociosos, mesmo preguiçosos. Mais: o que há pouco tempo era difícil e demorado fazer em programas de som e imagem gerados por computador, hoje é relativamente simples e rápido com programas de inteligência artificial. E é, em geral, perfeito. Fazem um tão esplêndido serviço que chegámos ao ponto de, nos audiovisuais, mal conseguir distinguir o que é real do que é ficção. Aliás, uma parte considerável dos conteúdos da Internet é fictício. Ao ritmo crescente, estima-se que, daqui por cerca de cinco anos ou pouco mais seja mais de 90%! Isto coloca um problema, pois a veiculação de informação falsa possa levar a conhecimentos e conclusões errados, condicionando assim o comportamento das pessoas e, consequentemente, as suas vidas, as eleições, as acções governativas e militares e o funcionamento da economia. E nós aqui, sem darmos por isso e ainda agradecendo aos gingarelhos e programas informáticos por fazerem tudo por nós.
Outros então têm curiosidade ou pura vontade ou interesse, seja económico, político ou militar, em que a inteligência artificial progrida e desvalorizam os receios daqueles que acham que devem haver limites.
Estaremos nós, humanos, a ficar tão alheios à realidade e estupidificados que nem confiamos uns nos outros para nos regermos a ponto de entregarmos o poder a entidades virtuais? Posso estar enganado e espero que sim mas penso que não vai ser nada engraçado quando alguma «entidade» de inteligência artificial chegar ao raciocínio lógico segundo o qual nós somos geríveis como gado ou produtos fabris ou à conclusão de que nós somos uma ameaça para o planeta e precisamos de ser erradicados.
Não se delimitem fronteiras de acção, não, e logo veremos o que nos acontece.
Que a caca esteja convosco!
P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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