quinta-feira, 25 de abril de 2013

Encantos da malandrice literária: «As Minas do Rei Salomão», livro versus filme

Já que estamos numa onda cultural, prossigamos dentro do género.

Ainda alguém se lembra de quando os filmes, por muito maus que fossem, eram espectaculares? Pois eu ainda há alguns dias tive oportunidade de rever «As Minas do Rei Salomão», a versão de 1985, com Richard Chamberlain, Sharon Stone, Herbert Lom e John Rhys-Davies, entre outros, e devo confessar que já quase não me lembrava do quanto fabuloso o filme é, em todos os sentidos. Acção em catadupa numa cavalgada frenética do princípio ao fim com montes de gargalhadas, mauzões parvos, heróis com pinta de comediantes garbosos e cheios de coragem que dá para dar e vender e, claro, a moçoila jeitosa com gritos que fazem lembrar a Willow do «Indiana Jones e o Templo Perdido», filme do ano anterior. Ficamos logo com a impressão que aquilo vai dar caldinho e, de facto, dá mesmo, quando o casal maravilha é posto a cozinhar por uma tribo de canibais totós. Quando inevitàvelmente comparado com os filmes do Indiana Jones, notamos que é de qualidade inferior, como é óbvio, mas nem por isso o filme é mau, até é muito bom mesmo e o tema central fica-nos agarradíssimo ao ouvido.

Acontece que, por essa altura, chegou-me às mãos um exemplar do livro que inspirou o filme, obra de 1885 da autoria de Henry Rider Haggard e famosa em Portugal pela tradução livre de Eça de Queiroz. Comparando o livro com o filme, depressa verificamos que um pouco tem a ver com o outro. A inspiração para o filme no livro vai pouco além do título.

Este livro deve ter sido obra de referência nas escolas inglesas, mesmo na colónias, durante largas décadas, imagino eu, mas hoje em dia era difícil ser mais polìticamente incorrecto.
1 - A malta fuma que se farta.
2 - A malta come carne crua. Ao menos aqui não há canibais, o que é uma pena porque não há direito a gritinhos da Sharon Stone.
3 - Ao longo da narrativa, vão sendo dadas dicas de como os brancos se devem comportar perante os negros para que estes não comecem a abusar da confiança e se mantenham respeitadores e submissos para com os branquelas. Os negros não são tratados abaixo de cão, há até um quase-romance entre uma negra, a Fulata, e um dos brancos, o Capitão John Good, mas há sempre uma espécie de aura de superioridade para com os brancos e de inferioridade par com os negros. Aparece mesmo uma passagem no Capítulo X em que o Capitão diz:
- Por hoje, repelimos a pretalhada do rei.
Isto é que teria sido uma machadada na diplomacia anti-racista se o livro fosse actual. Há que ter em conta o contexto em que o livro foi escrito, esquecendo os preconceitos de ambas as partes referentes ao assunto.
 4 - Allan Quatermain, aqui nomeado por Eça de queiroz com uma tradução de graciosidade questionável, pois é dos poucos nomes traduzidos e logo o mais bizarro, como Alão Quartelmar, não é nenhum grande herói. Ele próprio, em várias ocasiões, diz que é um cobarde, um medroso, que não gosta de aventuras, ama o sossego e, portanto, não anda com uma caçadeira de canos serrados no coldre! As circunstâncias é que o forçaram a tornar-se em herói.
5 - Melhor ainda, Alão Quartelmar sustenta um filho a estudar Medicina em Inglaterra. Como? Ele é caçador de elefantes! Mata-os para lhes sacar os dentes para ganhar uns trocos com o marfim e ainda lhes arranca os corações porque diz que são um petisco digno da mais castiça tasca de Serpa. Quer dizer, não fala na tasca de Serpa mas diz que é uma óptima iguaria. Lá vai mais uma machadada à conservação da Natureza e bio-diversidade.

A maior diferença de todas, no entanto, aparece logo no Capítulo I, quando lemos:

«E enfim, como última razão, escrevo esta crónica, por ser, sem dúvida, a mais extraordinária que conheço - na Realidade ou na Fábula. Digo «extraordinária» mesmo para os leitores profissionais de Romances - apesar de nela não haverem mulheres, além da pobre Fulata. Há Gagula, sim. Mas esse monstro tinha cem anos, pouca forma humana, e não sensibiliza. Em todas estas duzentas páginas, realmente, não passa uma saia.»

Olhamos para o livro e ficamos a pensar de imediato duas coisas:
1ª - Duzentas páginas? Deves ter escrito em folhas A3, não?
2ª - Quê? Não há mulherio? Então e a Sharon Stone? Não pode ser! Uma história de mangueiras?
Mais tarde vemos que estamos a ser parcialmente intrujados. Mais à frente, fazem-se inúmeros trocadilhos entre os Seios de Sabá, as duas montanhas, e a anatomia feminina e pensamos que não há censura possível numa história sem mulheres. As comparações e piadolas são uma espécie de escape derivada à falta de verdadeiras mamas e já se sabe como é que os homens são. Homem que é homem gosta de mamaçal e, já que não há nenhum à mão, porque não inventar dois ENORMES SEIOS sob a forma de montanhas gémeas cobertas de neve nos seus cumes arredondados? Pois tal não é a nossa surpresa quando chegamos ao Capítulo VIII e lemos:

«todo o espaço estava ocupado por longas filas de raparigas cacuanas, escuras também, é verdade, mas lindas, pelas formas, a expressão, a viçosa mocidade.»

Então mas ele não tinha dito que não haviam mulheres? Publicidade enganosa, o sacana estava a aldrabar-nos! Mas e alguém se queixa? Eu não, mas reparemos. Se fosse hoje em dia, seria ao contrário; mesmo que só aparecesse uma única tipa foleira na história inteira, o mais certo é que ele dissesse no Capítulo I algo do género de:

«(...) a mais extraordinéria que conheço - na Realidade ou na Fábula. Digo «extraordinária» mesmo para os leitores profissionais de prosa e fotonovelas alternativas - em virtude da voluptuosidade das vivências em deveras exóticas paragens repletas de garbosa argumentação entre as gentes que as habitam, nomeadamente no que concerne ao género feminino. Em todas estas duzentas páginas, muuuuuita acção se passa.»

Mas aqueles eram outros tempos, épocas de maior gravidade, contenção e prudência nos tratos. Talvez o autor quisesse fazeruma agradável surpresa aos leitores. Afinal, sempre passam muitas saias! Nem por isso, meus amigos pombos, pois, como se lê logo a seguir:

«Toilette, não tinham nenhuma - nem mesmo o pano, a tanga da África civilizada; mas salvavam esta encantadora deficiência pelo fraco luxo das flores.»

Encantador, de facto, com uma coroa de flores na cabeça e uma grinalda de flores à cintura que se iam desfazendo à medida que dançavam, como é que não haveria de ser encantador? Em rigor, há aqui milhares de mulheres nuinhas!

O sacana do Henry Rider Haggard tinha razão: em todas estas páginas, não passa, de facto, mesmo uma saia que seja!

Que a caca esteja convosco!





P.S.: NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO!!!

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A CACA DE POMBO É CORROSIVA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!