
Há dias atrás, aproveitei uma viagem de necessidade (não de necessidades, está bem?) para, num pulinho, ir a um alfarrabista e matar um desejo de juventude. Lá aquiri dois exemplares. Um foi «O Livro da Primeira Classe», um belíssimo exemplar cheio de bons exemplos e ilustrações de luxo como poucos títulos badalados se imprimem hoje em dia. Que pena tenho eu de não ter por um destes aprendido os rudimentos da escrita... O outro é um clássico de sempre: «Os Três Mosqueteiros», obra-prima de Dumas Davy de la Pailleterie, mais conhecido como Alexandre Dumas (Pai). Tive uma professora que costumava dizer:
«Há dois livros que todos os adolescentes devem ler antes de se tornarem adultos, sob pena de se arrependerem ao descobrirem o que perderam na vida: «As Aventuras de Dom Quixote» e «Os Três Mosqueteiros».»
Agora que, finalmente, tenho a graciosa honra de ler o segundo destes nomes, alegro-me com a história e descubro certas peculiaridades que, aos nossos olhos, se revelam malandrecas quanto baste. A tradução não é das melhores, pelo menos a partir daí da página 500 ou coisa assim, mas há elementos que não se perdem com meras adaptações linguísticas.
Bem sei que isto é anacrónico, não faz sentido aplicar no século XIX esta piadola mas não deixa de ser uma coincidência espantosa no que eu reparei ao acabar de ler o vigésimo nono capítulo. Tal não foi o meu espanto quando, virando a página, dei de caras com o trigésimo capítulo, que tem como cabeçalho
XXX
Milady
Quem diria que, mais de um século depois, isto pudesse dar azo a interpretações alternativas...
Há uma página brasileira (eu sei, enfim, o que é que se há-de fazer) onde se lê um comentário brilhante e cómico sobre o livro, em
Talvez por aqui se compreenda como é que, sem dizer «água vai» e nem apelo nem agravo, damos de caras com a cena do D'Artagnan a fugir meio despido quarto fora à frente da quase nua e de punhal em riste Milady de Winter. Dá que pensar, meus caros.
Que a caca esteja convosco!